domingo, 28 de novembro de 2010

Uma Neta para Francisco Xavier de Miranda Henriques

Uma neta para Francisco Xavier de Miranda Henriques
João Felipe da Trindade (hipotenusa@digi.com.br)
Professor da UFRN e membro do IHGRN

A carta de Data e Sesmaria concedida a João Machado de Miranda, das sobras do sitio da Guanduba, traz escrito no seu início: “Francisco Xavier de Miranda Henriques, Moço Fidalgo da Casa de Sua Majestade, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, Capitão Mor e Governador da Capitania do Rio Grande, pelo dito Senhor, faço saber os que esta minha carta de data e sesmaria virem, que quanto a mim me enviou a dizer por sua petição por escrito….”
Diz Adauto Câmara sobre Francisco Xavier de Miranda Henriques: “assumiu o governo da nossa Província a 18 de Dezembro de 1739 e deixou-o a 30 de maio de 1751. Foi muito combatido, em virtude, única e exclusivamente, de sua irredutível integridade, que não vacilava em contrariar interesses prejudiciais à causa pública. O Senado da Câmara de Natal chegou a representar a El Rei contra o Governador, um pouco desprimorasamente, diga-se de passagem, porque ele já estava aguardando substituto quando ocorreu a lembrança da representação.”
O moço fidalgo, depois disso, foi governador do Ceará e da Paraíba. Não encontrei entre nossos autores nenhuma referência aos descendentes, do Capitão mor e Governador, nascidos na nossa Província. Mas quando se trabalha com registros da Igreja, para se construir uma genealogia, todo cuidado é pouco. Os registros eram baseados em informações da família e muitos desses registros eram transcritos de outros assentos. Assim, sempre havia a possibilidade de equívocos. Tenho encontrado diversos erros de transcrição. Há pouco, na busca de informações sobre os Miranda Henriques, me deparei com o seguinte registro que não sei se foi erro ou se é verdade, por não se repetir em outros documentos.
Maria, filha legitima de Joam de Barros Coelho, natural do Recife, e de Luzia Maria desta cidade, neta paterna de José Coelho de Barros e Maria Álvares de Lima, naturais do Recife, e pela materna do Capitão Francisco Xavier de Miranda Henriques e Antonia Maria do Sacramento, natural desta cidade, nasceu aos quatro de Março do ano de mil setecentos e setenta e seis, e foi batizada com os Santos Óleos, de licença minha, nesta Matriz, pelo padre Coadjutor Bonifácio da Rocha Vieira, aos vinte de Março do dito ano; foram padrinhos o Ajudante Antonio Barros Passos e Antonia Maria do Sacramento, viúva. Do que mandei lançar este assento, em que me assinei. Pantaleão da Costa de Araújo, Vigário do Rio Grande.
Tal registro me chamou a atenção, pois, não tinha notícias de descendentes de Francisco Xavier no Rio Grande do Norte. Fui atrás de informações sobre Antonia Maria do Sacramento e Luzia Maria. Encontrei, inicialmente, o seguinte registro:
Ao primeiro de Junho do ano de mil setecentos e setenta e um, às seis horas da manhã, corridos os banhos juxta tridentinum, sem se descobrir impedimento algum, até a hora do seu recebimento, de licença minha, nesta Matriz, em presença do Padre Francisco Manoel Maciel, e das testemunhas abaixo assinadas, o Sacristão Francisco Álvares e Antonia de Barros, solteiros, e moradores nesta cidade, se casaram com palavras de presente Joam de Barros Coelho, natural do Recife, e já viúvo que ficou de Rosa Maria dos Prazeres, e Luzia Maria do Espírito Santo, natural desta cidade e filha natural de Antonia Maria do Sacramento; e logo receberam, digo, não receberam as bênçãos por ser o nubente viúvo. Do que mandei lançar este assento, em que me assinei. Pantaleão da Costa de Araújo, Vigário do Rio Grande.
Nesse assento acima, o padre que assina o casamento, é o mesmo que, posteriormente, assinou o registro de Maria, acrescentando Francisco Xavier de Miranda Henriques como pai de Luzia. No registro de casamento, Luzia aparece como filha natural. Nesse mesmo ano faleceu, em 28 de Julho, com a idade de cinco anos, Manoel, filho de Joam de Barros Coelho e de sua primeira esposa, Rosa Maria dos Prazeres.
Um registro de batismo, datado de 22 de Novembro de 1765, dava como padrinhos de Florência, a batizada, João de Barros Coelho e Antonia Maria do Sacramento, mulher de Manoel Gomes de Albuquerque. Fui atrás desse casamento de Antonia, e encontrei o seguinte e confuso registro:
Aos quinze de Janeiro de mil setecentos e cinqüenta e seis na Matriz desta cidade de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande, com a presença do Reverendo Padre Coadjutor Doutor João Freire de Amorim, e na ausência do Reverendo Vigário Doutor Manoel Corrêa Gomes, e das testemunhas que com ele assinaram, o Reverendo Padre Francisco de Albuquerque e Mello (devia ser parente do noivo), e o Padre (palavra ilegível) Joseph Gomes de Mello por mandado (palavra ilegível) do Reverendo Doutor Vigário Geral, Juiz dos Casamentos, Manoel Pires de Carvalho, se casaram, segunda vez, e solenemente, em face da Igreja, por palavras de presente, e revalidaram o matrimônio que entre si, mutuamente, tinham contraído, Manoel Gomes de Albuquerque com Antonia Maria do Sacramento, não havendo impedimento por constar do dito mandado, estar desfeito e com que já tinha sido ao primeiro matrimonio, e logo lhes deu as bênçãos da Santa Madre Igreja Romana. Do que mandou o muito Reverendo Senhor Doutor fazer este assento em que assino. Marcos Lins de Oliveira.
O Capitão mor Francisco Xavier de Miranda Henriques esteve aqui até 1751. Assim, para Luzia ser sua filha, deveria ter sido gerada até essa data. Antonia, mãe de Luzia, pelo que vimos acima, revalidou o casamento com Manoel Gomes em 1756. Não sei se existe um registro anterior de casamento entre os dois. Talvez outros documentos possam desvendar esse mistério.
Outro registro de batismo, posterior ao de Maria, é o de Joaquina, filha de João de Barros Coelho e Luzia
Maria do Espírito Santo, ocorrido em dezoito de Junho de 1785. Nele, aparece Antonia como avó e o avô incógnito. O batizante foi padre Francisco Álvares de Mello, e o registro foi assinado pelo mesmo Pantaleão da Costa de Araújo.