quarta-feira, 2 de março de 2011

Cartas da Ilha de Manoel Gonçalves

O trabalho genealógico se enriquece, a cada dia, com as contribuições de diversas pessoas com informações, documentos e fotografias. Recentemente, o autor do Índice Onomástico das Sesmarias do Rio Grande do Norte, Marcos Pinto, mandou informações sobre o inventário de Donna Anna Josepha Joaquina de Albuquerque, falecida em 18 de janeiro de 1830, viúva do Capitão Manoel Ignácio de Carvalho, procedido pelo Juiz de Órfãos Trienal da Vila de Portalegre, José Dantas Barcellar. Entre os documentos estavam duas cartas do Capitão Silvério Martins de Oliveira, expedidas da Ilha de Manoel Gonçalves. Na verdade, são procurações que ele passou.

Os herdeiros de Dona Anna, nesse inventário, foram Joaquim Ignácio de Carvalho e Albuquerque, os filhos do defunto Jacinto Ignácio de Carvalho e Joanna Nepomucena, esposa do Capitão Silvério Martins de Oliveira. Vejamos a primeira carta. Nela, escrevemos os nomes por extenso, eliminando as abreviaturas. Algumas palavras são incompreensíveis, e por isso posso ter cometido alguns equívocos.

Silvério Martins de Oliveira, Capitão de Ordenanças da Vila de Portalegre por sua Majestade Fidelíssima que Deus Guarde.

Por esta por mim feita e asignada constetuo por meos bastantes procuradores, aos Senhores Francisco Nunes Ferreira, Ignacio Bento de Bessa, e Francisco das Chagas de Araújo para que em meu nome como se eu próprio fosse e prezente estivesse possão, em qualquer parte que se acharem neste Império, cobrar e arecadar todas as minhas dividas, principalmente, as que constar dos meos zois, e livro, e obrigaçoens, que lhe dou arecadarão, e virão as suas mãos quer as ditas dívidas que me devem, como consta dos ditos asentos asima nomeados, e as mais que souberem, de gados, vacum e cavalar, para o que sendo preciso os farão citar por ação competente que as porporão em Juizo alegando todo o meu direito e justiça asignando todo o meu direito digo asinando libellos e execuçõns requerimentos fazendo penhoras, e secretos, aremataçons, lançando em bens para meu pagamento que os levantarão dos cofres, e depósitos públicos e particulares, dando quitaçõns do que receberem porpondo suspeçons, e contraditando testemunhas e desistindo sendo necessário que para tudo lhe concedo os meus poderes e o direito me permite, e esta poderá subtabelecer nos procuradoes que quiserem ficandolhe sempre os mesmos poderes. Passada nesta Ilha de Manoel Gonçalves aos 8 de outubro de 1826. Silvério Martins de Oliveira.

Outra procuração foi passada da Ilha de Manoel Gonçalves e é mais relacionada ao inventário.

Senhor Francisco Nunes Ferreira. Ilha de Manoel Gonçalves, 22 de Fevereiro de 1830.
Tendo cido participado por parte do Juizo de Orfaos da Villa de Portalegre, para comparecer naquele Juízo para efeito de porceder o inventario da defunta minha sogra, e como o não posso fazer por mim detrimino a vossa mercê como meu procurador bastante por mim comparessa como que se fora eu, e por tudo o que fizer de acordo com Ilustríssimo Senhor Secretario Liandro Francisco Cavalcante de Albuquerque dou por bem feito. Adivirtolhe que eu nada devo ao casal, nem da defunta, nem do defunto por que antes da defunta sahir desta Ilha em setembro de 1828 ajustei todas as minhas contas que com ella tinha, e com o defunto por ella ser sua testamenteira, e como assim sair  pode por mim jurar. Outro sim vossa mercê ajustará humas contas que tenho com o Alexandre Gomes de Freitas em amigável composição ou Judicialmente para o que a todos os pais(talvez seja papéis) que tenho pertencentes a elle, e huma obrigação que por elle paguei ao Senhor Capitão João Martins Ferreira, adivirtolhe mais que eu penco que a defunta minha sogra inda não havia findo o testamento do defunto e sendo queirão que eu pegue nele como segundo  testamenteiro, requeira em meu nome como o não fazer, ao que a lei deve provimento e no entanto que Deus Guarde a vossa mercê como lhe (incompreensível) que he. De vossa mercê amigo e S. Silvério Martins de Oliveira.

O Capitão Silvério e sua esposa Joanna Nepomucena, em 21 de maio de 1830, foram padrinhos de Manoel José Martins, filho de José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres, neto do Capitão João Martins e de Dona Josefa Clara Lessa, meus tetravós.
O Juiz ainda mandou fazer seqüestro dos bens de D Anna, em Serra do Martins e notificar Elisiario Antonio Cordeiro "para dar ditos bens a seqüestro e vir a este juízo declarar o que souber haja saído do mesmo monte visto haverem órfãos e herdeiros ausentes".

Esse Elisiário Antonio Cordeiro, como visto em outro artigo, era um português que vivia na Ilha de Manoel Gonçalves, e está na relação dos fundadores de Macau. A esposa dele, Antonia Silvéria de Oliveira, suspeito que fosse filha do Capitão Silvéria e Dona Joanna, e, portanto, neta da defunta. Ele compareceu no dia 27 de Janeiro de 1830, na Vila de Portalegre, em casa do Juiz Capitão José Dantas Barcellar e declarou todos os bens que se achavam na casa da defunta D. Anna Josepha.

Outro detalhe é que na lista dos devedores do monte do casal está outro morador da Ilha, Francisco José da Costa Coentro.

Um dia, a Ilha de Manoel Gonçalves merecerá maior visibilidade por parte das autoridades deste país. Por que nenhum jornal, revista ou emissora de televisão faz uma reportagem sobre a nossa Atlântida?

Se alguém desejar cópias das cartas, favor escrever para o e-mail acima.

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