quarta-feira, 2 de março de 2011

Prof. José Melquíades, Padre Zé Veinho e eu

Um dia, pesquisando na Cúria, me veio a idéia de ir atrás do meu batismo. Assim, pedi ajuda ao Diácono Leilson para localizá-lo. Com a ajuda dele, encontrei o dito batismo lá na Igreja de Bom Jesus das Dores, na Ribeira. De imediato tirei uma foto do mesmo, como fazia com os meus defuntinhos, como chama Dona Maria das Graças. E lá estava escrito, como segue:
Aos doze de Maio de 1946, na Matriz, o Pe. José Biesinger batizou solenemente a João, nascido a três de Fevereiro de mil novecentos e quarenta e seis, filho legítimo de Miguel Trindade Filho e Dalvanira Avelino Trindade, sendo Padrinhos Francisco Pinto e Áurea Pinto. Pe. José Winterhalter, vigário.
Meus pais moravam na Ribeira e eu nasci lá, na casa de número 90, na Rua Ferreira Chaves. Há pouco tempo fui revê-la.
Estranhei tantos nomes estrangeiros, mas fiquei por aí. Meus padrinhos Francisco de Mello Pinto (Chiquito Pinto) e Áurea Trindade Pinto eram primos legítimos, sendo que Áurea era irmã de meu pai. Eles eram os pais de João Batista de Mello Pinto, morador no Recife, que me ajudou tanto nas minhas pesquisas genealógicas.
Ocorre, que agora, no veraneio, li o livro do meu antigo professor de Inglês, José Melquíades, História de Santos Reis, a Capela e o Bairro. Foi lá nesse livro que encontrei informações sobre os dois padres acima e mais o padre Frederico Pastors, todos alemães.
Padre Winterhalter, alemão nascido em Gruninger, em 1890, chegou ao Brasil em 1936. Morreu em Natal aos 80 anos. Viveu 30 anos no Brasil, 24 dos quais na paróquia da Ribeira.
Padre Biesinger, conhecido como Padre Zé Veinho, era de uma simplicidade edificante; paciente e tranqüilo: a humildade em pessoa. Um santo homem. Identificava-se com os humildes, expressava-se fluentemente num português claro e simples, na leveza do sotaque nordestino, sem a xenofonia dos seus irmãos de pátria. Esses padres curavam a Igreja de Bom Jesus das Dores, na Ribeira, a Igreja da Sagrada Família, nas Rocas, e a Capela de Santos Reis. Viviam humildemente em vida reclusa e de uma pobreza extrema. Moravam na casa paroquial na "subida da ladeira de Bom Jesus", Rua Gustavo Cordeiro de Farias. Ali se recolhiam em orações. Padre Biesinger morreu aos 90 anos. Tinha a alma de uma criança, na pureza de suas intenções e na inocência de seu comportamento.
Segundo, ainda, Prof. Melquíades, Padre Frederico tinha quase dois metros de altura. Alem das suas virtudes sacerdotais, foi sempre a preocupação dos sapateiros, uma dor-de-cabeça que descia aos pés: calçava 44. Os três, em sua pátria de origem, serviram na Grande Guerra de 14 a 18. Ordenados padres, exerceram dignamente o seu ministério a partir do momento em que receberam as ordens sacras e o bispo lhes impôs na alma, o caráter sacerdotal pela repetição das palavras ritualísticas; sacerdos eris in aeternum.
Continua Prof. Melquíades: Estou certo de que cumpriram corretamente a missão que Deus lhes reservou, aqui na terra. Mas foi muito triste o fim da vida desses sacerdotes que fizeram de nossa cidade sua segunda pátria. Laura Leite de Oliveira, zeladora da casa paroquial onde eles moraram e que os acompanhou durante muitos anos, em depoimento escrito do próprio punho afirma: passaram eles, isolamento, desprezo e abandono por parte do clero local, além da penúria e a pobreza de Jó.
O livro do Professor José Melquíades, ex-seminarista, é muito rico de informações históricas da cidade do Natal, como da Igreja Católica. Vale a pena conhecê-lo.
A Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores é bem antiga. Vejamos dois batismos feitos lá.
Joanna nasceu a dezesseis de Maio de mil setecentos e setenta e um anos, e foi batizada aos vinte e oito de Junho do dito ano, pelo Reverendo Padre João Tavares da Fonseca, de licença minha, na Capela do Senhor Bom Jesus, sita na Ribeira desta cidade, filha do Capitão João de Barros Coelho, natural de Santo Antonio do Recife, e Luiza Maria do Espírito Santo, natural desta cidade do Rio Grande; neta por parte paterna do Capitão José Coelho Barros, e de Maria Alves de Lima, naturais do Recife, e pela materna de Antonia Maria do Sacramento, mulher solteira, natural e moradora nesta Freguesia. Foram padrinhos o Capitão José Baptista Freire, e Antonia Maria do Sacramento, moradores nesta cidade, do que fiz este assento para constar, e teve os santos óleos. Francisco de Sousa Nunes, Vice Vigário do Rio Grande.
Ignez, filha de Luiza, crioula, escrava do Capitão Joam Duarte de Sá, morador nesta cidade, de pai incógnito, nasceu aos vinte e cinco de Janeiro de mil setecentos e oitenta e dois, e foi batizada aos oito de Fevereiro do dito ano na Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores, desta Ribeira, por mim, digo pelo Reverendo Padre Joam Tavares da Fonseca, de licença minha, com os santos óleos, foram padrinhos Estevam da Cunha, morador na dita Ribeira, e sua mulher Maria Manoela, e não se continha mais no dito assento, que para constar, aqui o mandei lançar e me assino. Francisco de Sousa Nunes, Vice Vigário do Rio Grande.
Foi nesta Capela que foram enterrados o Capitão Silvério Martins de Oliveira e sua mulher Dona Joanna Nepomuceno de Oliveira, respectivamente, nos anos de 1849 e 1850. No artigo anterior, Cartas da Ilha de Manoel Gonçalves, eles foram citados.

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