quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Uruaçu: sobreviventes e descendentes (IV)

Uruaçu, sobreviventes e descendentes (IV)
Manoel Maurício no documento Memória da família de Utinga escreveu que  a oitava filha de Francisco Xavier de Sousa Jr.  e Bernarda Dantas da Silveira, Theresa de Jesus Xavier, casou com o Alferes Manoel Varella Junior e desse matrimônio teve três filhos e uma filha, a saber: Francisco Xavier de Sousa, Manoel, José e Luisa Xavier de Jesus. Nos livros da Igreja encontramos o registro desse casamento que transcrevemos aqui.
"Aos trinta de outubro de mil oitocentos e dezesete pelas dez hora do dia, na Capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga: depois de feitas as denunciações, na forma do Sagrado Concilio Tridentino, nesta Freguesia aonde ambos os nubentes são moradores e a nubente natural, na Freguesia de Assu, naturalidade do Nubente: e não constando canônico ou civil impedimento o que se vê dos banhos que ficam em meu poder: em minha presença e das testemunhas o Capitão Manoel Varella Barca casado e o Capitão Francisco Xavier de Sousa Junior, viúvo, aquele morador no Assu  e este nesta freguesia, ambos brancos, e pessoas de mim bem conhecidas, se cazaram em face da Igreja solenemente, e por palavras de presente Manoel Varella Barca Junior, filho legitimo de Manoel Varella Barca e Dona Luzia Florência da Sylva com Dona Thereza de Jesus Xavier, filha legitima do Capitão Francisco Xavier de Sousa Junior e Dona Bernarda Dantas Xavier da Silveira. E logo o dito, digo, e logo lhe dei as benções segundo o Rito e Cerimônias da Santa Madre Igreja. Do que tudo fiz este termo que por verdade assinei. Feliciano José Dornelles. Vigário Colado."
Theresa de Jesus Xavier era bisneta de Isabel Rodrigues Santiago e Salvador de Araújo Correa, portanto uma das descendentes de Antonio Vilela Cid e Estevão Machado de Miranda.
Outra família que cruza o caminho dos descendentes dos mártires é  Morais Navarro.
Segundo o documento de Utinga, a segunda filha de Isabel Rodrigues Santiago, Lourença de Araújo Correa casou com o português Bento José Taveira, e desse matrimônio teve os seguintes filhos: Alexandre José Taveira, o Capitão Salvador Maria da Trindade, Maria Soares e Ana Soares. Mas, os livros da Igreja registram outros fatos. Acredito, pelo fato de Lourença ter casado  com o viúvo Luis Soares Correa, que ela casou, posteriormente, uma segunda vez. Consta no registro de casamento, a informação abaixo:
Na data de três de Agosto de 1734, na Capela de Nossa Senhora do Socorro da Utinga, da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande do Norte, casaram Luiz Soares Correa, filho de Manoel Soares e de sua mulher Maria Domingues, viúvo que ficou de sua primeira mulher Anna Maria de Mello, e Lourença Araújo, filha do Sargento Mor Salvador de Araújo Correa e de sua mulher Isabel Rodrigues Santiago. As testemunhas foram Sargento Mor Antonio Rodrigues Santiago, tio de Lourença, Custódia do Sacramento mulher do dito, e Rosa Maria mulher do Sargento Mor Manoel Teixeira Casado.
Agora, vamos ao registro de batismo de Lourenço para confirmar que Maria Soares era filha na verdade de Lourença de Araujo Correa com Luis Soares Correa e não com Bento José Taveira.
"Lourenço filho legítimo do Capitão Mor Joaquim de Moraes Navarro e de D. Maria Soares naturaes  desta Freguesia neto paterno do Sargento Mor José de Moraes Navarro natural de S. Paulo e de Dona Francisca Bezerra da Silva já defuntos, natural da Parahiba e pela materna de Luiz Soares, já defunto, natural de Minas e de Lourença Arahujo Correa natural desta Freguesia nasceu aos quatorze de Março de mil setecentos oitenta e seis e foi baptizado aos vinte e dois de Abril do dito ano de licença minha com os Santos Óleos pelo vigário da Villa de Extremoza Valentim de Medeiros Vasconcellos na Capela de Sam Gonçalo do Potegi desta Freguesia e foram Padrinhos o Capitão Manoel Álvares de Moraes, solteiro e D. Anna Poderosa filha do Capitão Mor Joaquim de Moraes Navarro e não se continha mais no assento que me veio, do que mandei fazer este assento em que por verdade me assino. Pantaleão da Costa Araújo. Vigário do Rio Grande."
Outro registro, batismo de Rosa, dá conta que Ana Maria Soares é filha de Lourença de Araújo Correa e Luiz Soares Correa e, não de Bento José Taveira. No batismo referido,  Rosa é filha dela, Anna Maria Soares e de seu marido Francisco Delgado Barbosa Junior.
Possivelmente, os outros dois Alexandre José Taveira e Salvador Maria da Trindade sejam filhos de Lourença com Bento José Taveira.
Outra família que cruza o caminho dos descendentes de Antonio Vilela e Estevão Machado é Cabral de Macedo. Uma filha de Salvador de Araújo Correa e Isabel Rodrigues Santiago, de nome Joana Rodrigues Santiago, casou com João Rodrigues Seixas. Um dos filhos deste último casal, Antonio Rodrigues Santiago, que tem o mesmo nome de um irmão de Isabel, casou com Maria Inácia Cabral de Macedo. Segundo Analúcia, pesquisadora lá do Açu, Maria Inácia era filha de Antonio Cabral de Macedo e de Josefa Martins de Sá.

Uruaçu: sobreviventes e descendentes (III)

Uruaçu, sobreviventes e descendentes (III)

Antes de tudo, façamos algumas correções no artigo anterior. No sexto parágrafo, o esposo de Catharina (ou Catherina) é Manoel Rodrigues Santiago, como consta em parágrafos anteriores. No parágrafo oitavo a frase é "Esse Junior aparece no documento... ".
No livro "História da Fortaleza da Barra do Rio Grande", de Hélio Galvão, está escrito que Joris Garstman "em 1639 acompanha a Recife os escabinos do Rio Grande, Estevam Machado de Miranda e Manoel Rodrigues Pimentel, seu concunhado, levando-o à presença do Supremo Conselho, para denunciar as extorsões e insuportáveis violências de Rabe." Não sei que providências o Conselho tomou, mas, com certeza, Rabe esperou até 1645 para se vingar, matando Estevam e João Lostau, sogro de Joris Garstman e de Manoel Pimentel. Este último não sei que destino tomou ou se foi poupado de alguma forma, pois, não há maiores referências a ele, posteriormente.
Meu interesse por Uruaçu começou quando descobri que parte da minha família vinha da região que compreendia Utinga, Santo Antonio do Potengi, São Gonçalo e Jundiaí. Vamos, pois, aos fatos. Os irmãos Miguel Francisco da Costa Machado e Vicente Ferreira Xavier da Cruz, dois irmãos que eram meus trisavôs, lá de Angicos, eram filhos de Francisco Xavier da Costa que casou na Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres e São Miguel da Vila de Extremoz, com Lourença Dias da Rosa. Lourença era filha de Antonio Dias Machado, filho de João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo. Este último casal carrega os mesmos sobrenomes de outro casal, que faz parte do documento de Manoel Maurício Correa de Sousa "Memória da família de Utinga", Margarida Machado de Miranda e Manoel Duarte de Azevedo. Em artigo anterior escrevemos que Margarida era filha única do mártir de Uruaçu, Estevão Machado de Miranda. Essa coincidência de sobrenomes, a presença constante de descendentes de Estevam Machado de Miranda nos casamentos ou batismos dos descendentes de João Machado de Miranda, além dos lugares comuns onde conviveram, estão me levando a buscar o elo entre esses dois Machado de Miranda.
 João Machado e Leonor Duarte tiveram uma filha de nome Catherina Duarte de Azevedo, mesmo nome de uma filha de Margarida Machado de Miranda e Manoel Duarte de Azevedo. As testemunhas do casamento de Catherina, filha de João Machado e Leonor Duarte, em 25 de janeiro de 1734, na Capela da Utinga, foram Catherina, filha de Margarida e Manoel Duarte, seus filhos Sargento Maior Antonio Rodrigues Santiago e Elena Duarte, mulher do Coronel Lourenço de Araújo, seu genro, o Sargento Maior Salvador de Araújo Correa, casado com Isabel Rodrigues Santiago, sua outra filha.
João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo batizaram seus filhos Felizarda e João nos anos de 1706 e 1709, respectivamente nas capelas de São Gonçalo do Potengi e Nossa Senhora do Socorro da Utinga. João, posteriormente, João Machado de Azevedo, em 1743, casou com Maria Mendes da Sylva, na capela de São Gonçalo do Potengi. As testemunhas, neste caso, foram o Capitão João Rodrigues Seixas casado com Joana Rodrigues Santiago, filha de Isabel Rodrigues Santiago e Rodrigo Alves Correa casado com Bernarda de Araújo Correa, outra filha de Isabel Rodrigues Santiago.
Um outro filho de João Machado de Miranda e Leonor Duarte, Luiz Duarte Machado foi casar, em 1749, na Igreja de Santa Anna da Aldeia de Mipibú, com Antonia Maria das Neves. Neste caso, os padrinhos foram João Machado de Miranda, pai do nubente e o Sargento Mor Manoel de Sousa Jardim.
Em 1748, na Capela de São Gonçalo da Ribeira do Potengi, casou mais uma filha de João Machado de Miranda e Leonor. Desta vez foi Joana Machado que casou com Manoel Amorim. Os padrinhos foram João Rodrigues de Seixas já nomeado acima e José Rodrigues Santiago, este filho de Isabel Rodrigues Santiago, bisneta de Estevão Machado de Miranda e Bárbara Vilela Cid e, também, já nomeada acima. Outra filha de João Machado e Leonor Duarte, Theresa Dias da Rosa casou em 1742, na Capela de São Gonçalo do Potengi com Martinho Gomes Pereira, que veio menor de sete anos da Freguesia de São Bento de Porto Calvo. Dias da Rosa é o mesmo sobrenome de Lourença, esposa de Francisco Xavier da Cruz, como visto acima.
Não encontrei outros registros posteriores para Felizarda que foi batizada em 1706. Já Antonio Dias Machado, avô de Miguel Francisco da Costa Machado e Vicente Ferreira Xavier da Cruz, casou, em 1757, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, com a viúva de Nicácio Duarte, Francisca Lopes Xavier, parente em segundo grau de consangüinidade, filha de Luiz Duarte de Azevedo e Lourença Lopes Xavier.
Pelas novas informações, colhidas até agora, são descendentes de João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo, entre outros, o escritor Afonso Bezerra, Capitão José da Penha, Monsenhor Júlio Bezerra, Monsenhor Lucilo Machado, Gonçalo José Barbosa, Mathildes Xavier da Cruz, Antonio de Sousa Monteiro, Promotor de Justiça Afonso Ligório e Ana Miriam Machado.
A falta de alguns documentos, referentes a alguns períodos, cria vazios que dificultam a busca de elos perdidos. Mas, vamos continuar a nossa busca.

Uruaçu:sobrevivente e descendentes (II)

Uruaçu: sobreviventes e descendentes (II)

Alguns relatos sobre o massacre de Uruaçu, em 3 de Outubro de 1645, dão conta que duas filhas de Estevão Machado de Miranda foram mortas e uma terceira foi entregue a um índio em troca de um cachorro. Lopo Curado Garro, no relato para João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, só faz referência  a uma filha de Estevão, aquela menina de sete anos, citada no artigo anterior. Por sua vez, Manoel Maurício, descendente de Antonio Vilela Cid, afirma que Estevão e a esposa Barbara Vilela Cid tiveram uma única filha.
Como escrevemos antes, a filha única de Estevão e Bárbara era Margarida Machado de Miranda que casou com o Capitão Manoel Duarte de Azevedo. Deste casamento houve  uma única filha, Catharina Duarte de Azevedo, que casou com o Sargento Mor Manoel Rodrigues Santiago.  Segundo Manoel Maurício, este último casal teve três filhos: Antonio Rodrigues Santiago, Isabel Rodrigues Santiago e Helena Duarte de Azevedo. Pelo livro de batismos, que se encontra hoje no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, encontramos os seguintes registros: Antonio Rodrigues Santiago aparece, em 4 de Agosto de 1705, como padrinho de Perpétua, filha de João Barbosa de Góis e de Luisa Ribeiro. Não há o batismo dele, pois deve ter nascido antes de 1688; Já Isabel Rodrigues Santiago, batizou-se, em 26 de novembro de 1691, em São Gonçalo do Potengi, sendo seus padrinhos o Capitão Teodósio da Rocha e Joana Costa, filha do Capitão Domingos da Costa Faleiros. Isabel reaparece nesse livro, já casada com Salvador de Araújo Correia, por conta do batizado de sua filha, Luisa, na Capela de Utinga de invocação de Nossa Senhora do Socorro, onde foram padrinhos, o padre Antonio de Araújo e Sousa, e sua irmã Helena Duarte de Azevedo. Helena, por sua vez foi batizada em 27 de dezembro de 1701, na Capela de São Gonçalo do Potengi. Foram seus padrinhos Antonio Duarte e Anna de Macedo, filha do capitão João Martins de Sá; Barbara, que não aparece na relação de Manoel Maurício,  foi batizada, em 31 de outubro de 1689, na Capela de São Gonçalo. Foi seu padrinho Matias Camelo.
É possível que essa última tenha morrido cedo ou tenha ficado solteira, pois, nos documentos posteriores não há nenhuma referência a ela.
Dos filhos de Catharina Duarte de Azevedo e Manoel Rodrigues Santiago, só foi possível encontrar o registro de casamento, em 1730, de Helena Duarte de Azevedo que transcrevo aqui:
"Aos doze de janeiro de mil setecentos e trinta annos, na Capella de Nossa Senhora do Socorro da Utinga, desta Freguezia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande do Norte, feitas as denunciações nesta Matris e na Capela onde é moradora a Contraente, e apresentado pelo Contrahente banhos corridos na sua Matriz ,Freguesia do Assu, e justamente um mandado do Muito Reverendo Doutor Vigário Geral o Senhor Antonio Perera de Castro (ilegivel) de ambos para se casarem, sem se descobrir impedimentos, em presença do Padre Antonio Domingos Rodrigues Tilloens, de licença do Reverendo Coadjutor licenciado, João Gomes Freire que por minha ausência fazia as vezes do verdadeiro Pároco, sendo presentes por testemunhas o Capitão Mor desta Capitania Domingos de Moraes Navarro , o Capitão Manoel Rodrigues Santiago, casado, Anna de Macedo mulher do Capitão João Marinho de Carvalho, e dona Maria Magdalena mulher do Sargento Maior Hilário de Castro Rocha, se casaram em face da Igreja Solenemente o Coronel Lourenço de Arahujo Correa filho legitimo de João de Arahujo e de sua mulher Maria Lopes já defuntos naturais e fregueses  da Freguesia de Cabração termo do Arcebispado de Braga e Elena Duarte, filha legitima do Capitão Manoel Rodrigues Santiago e de sua mulher Catherina Duarte, moradores todos nesta Freguesia e todas pessoas acima ditas conhecidas, guardando em tudo a forma do Concilio Tridentino e pelo assento que veio do dito Padre mandei fazer este, em que por verdade assinei. Manoel Correa Gomes, vigário do Rio Grande. Domingos de Moraes Navarro."
Os três filhos de Catharina Duarte de Azevedo e Manoel Rodrigues Santiago tiveram ao todo 19 filhos, que passamos a nomear.
Antonio Rodrigues Santiago e Custódia do Sacramento tiveram os seguintes filhos: Capitão Manoel Rodrigues Santiago, Francisco Tavares Guerreiro, Joanna Gomes de Abreu e Catherina Duarte de Azevedo. Observe que os sobrenomes são diferentes.
Isabel Rodrigues Santiago e Salvador de Arahujo Correa tiveram os seguintes filhos: Capitão Manoel de Arahujo Correa, José Rodrigues Santiago, Salvador de Arahujo Correa Junior, Sargento Mor Antonio Rodrigues Santiago, Teresa Duarte de Jesus, Lourenço de Arahujo Correa, Anna Maria da Conceição, Bernarda de Arahujo Correa, Joanna Rodrigues Santiago Junior, Isabel Rodrigues Santiago Junior. Esses Junior aparecem no documento escrito por Manoel Maurício, possivelmente, para diferençar de outras pessoas da família, de mesmo nome.
Helena Duarte de Azevedo e Lourenço de Arahujo Correa tiveram os seguintes filhos: Francisco de Arahujo Correa, José de Arahujo Correa, Antonio Rodrigues de Arahujo, Ignês Maria de Arahujo e Anna Maria da Conceição.
No próximo artigo noticiaremos sobre alguns outros descendentes.

Uruaçu:sobreviventes e descendentes (I)

Uruaçu: sobreviventes e descendentes (I)
As primeiras leituras sobre o massacre de Uruaçu me deram a impressão que ninguém tinha sobrevivido. Quando encontrei registros de pessoas que tinham sobrenomes iguais aos dos mártires, fiquei sem entender como isso poderia ter acontecido.
O documento de Utinga, hoje nas mãos de Paulo Leitão de Almeida, contando a genealogia dos moradores daquela região e, principalmente, de descendentes de Antonio Vilela Cid, trouxe  novas informações para encontrar elos perdidos. Foi escrito por Manoel Maurício Correa de Sousa, um dos descendentes, por volta de 1840,  pelo que pude perceber. A citação de decretos e livros da Igreja parecia dar veracidade ao referido documento. Algumas informações que pesquisei de livros da Igreja  pareciam confirmar o  que foi escrito por Manoel Maurício.
Muitos historiadores, muitas versões e  muitas repetições! Mas, Fábio Arruda me enviou um documento, com o título "Relação das últimas tiranias, e crueldades, que os pérfidos holandeses usaram com os moradores do Rio Grande, escrita pelo Capitão Lopo Curado aos dois mestres de campo, e governadores da liberdade de Pernambuco, João Fernandes Vieira, e André Vidal de Negreiros", onde  pude ter mais clareza sobre os fatos ocorridos em Uruaçu.
O documento de Lopo Curado foi escrito na data de 23 de Outubro de 1845, portanto, vinte dias após o massacre de Uruaçu. Nesse documento, a certa altura, ele colocou o que se segue: "Estevão Machado de Miranda tinha uma menina de sete anos sua filha na fortaleza em sua companhia, e trazendo-a consigo a receber o martírio, vendo a dita menina que os flamengos queriam matar a seu pai, como aos outros presentes, se abraçou com ele, pedindo a vida do pai com as lamentações, e entendimentos de mulher de muitos anos, e os flamengos a tiraram dos braços do dito pai, ao que lhe disse o dito: Filha, dize a tua mãe que se fique embora, que no outro mundo nos veremos. E desta maneira o mataram, e a menina tirou a saia depois do pai morto, e se foi para ele, e cobrindo-lhe o rosto, e chorando, e pedindo que a matassem também, a quem os ditos algozes lançaram mão da dita saia, e trouxeram a menina a sua mãe, e ela, e os mais contaram o caso."
Mais adiante relata Lopo Curado o que se segue:
"Muitas outras coisas milagrosas sucederam, dignas de se recontarem, que deixo ao tempo, no qual fio não passará, e todas acima declaradas foram vistas, e juradas, e autênticas por vinte cinco mulheres que o inimigo botou nesta Paraíba, com suas famílias, as ditas chegaram de maneira, e tão transfiguradas que mais parecem pessoas ressuscitadas que viventes corpos."
Pelo relato de Lopo, as viúvas com os órfãos foram levadas para a Paraíba, e foram elas que declararam as informações que ele passou para os mestres de campo. Portanto, houve sobreviventes.
Fiz mais fé no documento de Utinga, escrito por Manoel Maurício Correa de Sousa, um dos descendentes, como dito acima.
O documento começa com o português Antonio Vilela Cid que veio para o Brasil para ser Capitão Mor e governador da Província do Rio Grande do Norte. As informações desse início se repetem na "Nobiliarquia Pernambucana", de Borges da Fonseca. Antonio Vilela era casado com Ignez Duarte, irmã do Padre Ambrosio Francisco Ferro, um dos massacrados de Uruaçu.  Tiveram cinco filhos: Antonio Vilela Cid, o moço, que morreu junto com o pai e o tio; Pedro Vilela Cid, que escapou por ter ido casar na Paraíba com Joana de Góis; Maria Duarte que casou com Francisco Coelho; Ignez Duarte Jr. que casou com o Sargento-mor Antonio Gonçalves Ferreira; Bárbara Vilela Cid  esposa do Escabino Estevão Machado de Miranda, outro massacrado em Uruaçu.
Escreveu Maurício que Estevão e Bárbara tiveram uma única filha, Margarida Machado de Miranda (acredito que seja a menina de sete anos citada acima) que casou com o Capitão de 1ª linha, Manoel Duarte de Azevedo. Deste último matrimonio nasceu, também, uma única filha, Catharina Duarte de Azevedo que casou, por sua vez, com o Sargento Mor Manoel Rodrigues Santiago. Catharina e Manoel Rodrigues tiveram três filhos, segundo Manoel Maurício, a saber: Sargento Mor Antonio Rodrigues Santiago que casou com D. Custódia do Sacramento, Isabel Rodrigues Santiago que casou com o Sargento Mor Salvador de Araújo Correa e Elena Duarte de Azevedo que casou com o Coronel Lourenço de Araújo Correa. Nos registros de batismos que vão de 1688 até 1711, enviados por Fábio Arruda, há mais uma, Bárbara, batizada em 31 de outubro de 1689, em São Gonçalo.
Nas colunas do documento, Manoel Maurício foi relacionando os descendentes até a geração dele. Em alguns casos de parentes que não eram  ascendentes diretos dele, escreve: "quem quiser que busque sua linha". No próximo artigo falaremos sobre mais descendentes, inclusive, uma que casou com um dos Varela Barca lá do Açú.

João Lostau e as ruínas de Pirangi (ou Pium)

João Lostau e as ruínas de Pirangi (ou Pium)
Em primeiro de março de 1601, João Rodrigues Colaço concedia a data de número 15 a João Lostau, natural do Reino de Navarra. Posteriormente, João Lostau recebeu outras datas. Ele morava na Costa Sul do Rio Grande do Norte. Segundo alguns autores uma de suas filhas, Beatriz Lostau Casa Maior,  era casada com o holandês Joris Garstman que chefiava o forte dos Reis Magos no período do domínio holandês. Outros autores dizem que Joris ele se casou com uma portuguesa que morava no Engenho Cunhaú. Esse fato não impediu que João Lostau fosse assassinado por Jacob Rabi no massacre de Uruaçu. Outra filha, Maria Lostau Casa Maior, era casada com Manoel Rodrigues Pimentel que juntamente com Estevão Machado de Miranda eram escabinos na época da invasão holandesa..
Após ter percorrido localidades onde moraram vários mártires de Uruaçu, ficou ainda na mente o desejo de conhecer o lugar onde viveu João Lostau. Através dos livros de Olavo de Medeiros Filho,  "Aconteceu na Capitania do Rio Grande do Norte", e o de Hélio Galvão, "História da Fortaleza da Barra do Rio Grande",  fui me inteirando das possíveis localizações. Na semana que antecedeu o Carnaval, comprei o livro do Professor da UFRN, Valdeci dos Santos Junior, "Os índios Tapuias do Rio Grande do Norte", onde havia fotos da ruínas de Pirangi, e uma indicação vaga de sua localização.
Entrei em contato com Valdeci, através de e-mail, pedindo informações mais detalhadas das ruínas. Recebi a seguinte resposta: "Na verdade as ruínas do Pium (como são mais conhecidas) têm como uma das hipóteses ter sido a provável casa forte de João Lostau. No livro cito essa hipótese que foi defendida pelo saudoso professor Olavo. Mas existem outras hipóteses que são defendidas, inclusive pelo próprio professor Olavo."
Continua Valdeci: "Olha João, é meio complicado, mas vou tentar te ajudar. Para você chegar lá uma das rotas é pegar a BR 101 e após a cidade de Parnamirim, entrar em direção ao Pium (parece que ainda existe uma casa de shows ou rodeios logo na entrada da estrada de acesso ao Pium). Seguir nessa estrada asfaltada e pedir informações de como chegar a um presídio. A estrada que dá acesso ao presídio é de barro. As ruínas estão situadas numa das pequenas entradas a esquerda (de quem vai em direção ao presídio). Você pedindo informações nas proximidades do presídio, realmente, ficará mais fácil de localizar. Infelizmente, uma relíquia histórica desse porte não tem o apoio cultural do poder público para merecer sequer uma sinalização que ajudem os pesquisadores e/ou turistas para visitá-lo. Espero ter te ajudado e não desista, vá em frente. A dificuldade é somente de informação, mas o local lá é tranquilo, de fácil acesso (sem vegetação que dificulte) e quem chega lá logo percebe a importância das ruínas."
Em uma ida até o Pesque Pague pedi informações, como aconselhado por Valdeci, a algumas pessoas que trabalham lá e que moram nas redondezas. O presídio citado é o de Alcaçuz.
No dia seguinte, domingo de carnaval, saímos de Pirangi eu, Vicente Justiniano e Aurino Simplício, em busca das ruínas. Com as indicações de Valdeci e do pessoal do Pesque e Pague foi fácil chegar lá. Por Pium, entre uma ponte e outra, pegamos uma estrada de barro a esquerda e mais adiante outra estrada de barro, também à esquerda, onde só passava um carro e, logo, chegamos às ruínas. Muito mais fácil do que pensávamos. Se houvesse sinalizações como sugere Valdeci, tudo seria mais rápido. O descaso é maior por conta do fato que essa construção foi tombada pelo Estado do Rio Grande do Norte, em 17 de fevereiro de 1990, segundo Valdeci.
Lá na fazenda, onde se localizam as ruínas, nenhuma indicação de tombamento, ninguém para dar uma informação maior. Tiramos várias fotografias daquela construção histórica, independente de que serventia teve a mesma. É uma construção retangular com apenas três divisões. Não lembra uma casa de moradia. Se era para armazenar mercadorias, parecia pequena.  O morador daquela fazenda, a uma pergunta nossa,  nos informou que pertencia ao Dr. José Arno. Também nos informou que aquelas pedras pretas com que foram construídas, segundo informações que ele ouviu, era juntadas com óleo de Baleia.
Saí satisfeito com o que vi, embora sem nenhuma opinião formada sobre a finalidade daquela obra. Pouco depois da invasão de Cunhaú, se afirma que muitos moradores rumaram para essa Casa Forte, procurando proteção. Não me parece que fosse um local próprio para essa proteção, a menos que houvesse mais coisas ali que foram destruídas. Valdeci dá noticias de algumas pesquisas por lá, mas coisas superficiais. Acredito que aquela obra merece um estudo mais aprofundado.
Todos esses locais que visitei e que foram pontos importantes da nossa História deveriam estar, neste momento, sinalizadas e incluídas nos roteiros turísticos do Rio Grande do Norte.
Turismo não se faz necessariamente com os dentes. Pode ser feito, também,  com o dantes.

Ferreiro Torto, Santo Antonio do Potengi e Uruaçu

Ferreiro Torto, Santo Antonio do Potengi e Uruaçu.

De volta de Utinga, resolvemos fazer uma visita ao Solar do Ferreiro Torto. O Engenho, de mesmo nome, também sofreu nas mãos dos Holandeses. Na chegada, e a primeira vista, parecia uma coisa mais bem cuidada. Logo na entrada, nos avisaram que estava havendo uma reforma por conta de um casamento que ia ser realizado ali. Estranhamos, mas, resolvemos entrar. Lá dentro, o passado real estava sendo afastado para dar lugar a vaidade de um presente irreal. O busto de Augusto Severo, a um canto, parecia transmitir certa estupefação.
Havia uma zoada de reforma. Alguém furava o teto para colocar vários candelabros para o casamento. Indignados, continuamos nossa visita. Uma moça atenciosa se ofereceu para mostrar a parte de cima do Solar.
Já em cima, ela nos mostrou o cafuá e o quarto de mama. Depois foi dando os nomes dos vários personagens que não conseguíamos reconhecer. Faltava identificação e um pouco de historia em cada uma daquelas imagens. Nenhum folder, nenhum livro e nenhuma revista sobre aqueles personagens.
Já em Natal, fui identificar em um mapa os locais por onde passei. Foi aí que vi que existia uma localidade em São Gonçalo de nome Santo Antonio do Potengi. Anteriormente, toda vez que via um registro da Igreja, sobre a Capela de mesmo nome, pensava que era nossa Igreja do Galo. Pura ignorância, ledo engano. Como pretendia visitar Uruaçu, resolvi também passar por Santo Antonio e ver se localizava aquela Capela.
Dia 10 de fevereiro saí para fazer minhas visitas. Em São Gonçalo me informaram onde era a Capela, ai fui até lá. Era perto e, chegando, fui logo tirando umas fotografias. No frontispício da Igreja a data de 1885, uma data muita mais recente que a idade real, basta ver que em 1796, Padre Bonifácio da Rocha Vieira batizou Francisco da Rocha Bezerra Junior, neto de Marianna da Rocha Bezerra e bisneto do Coronel da Ribeira do Açu, Antonio da Rocha Bezerra.
Enquanto tirava fotos dessa Igreja, cujas paredes têm mais de meio metro de largura, se aproxima uma jovem de nome Etienne, que faz parte daquela Igreja e nos presta algumas informações. Segundo ela, o pároco dali é o Padre Felipe. Depois, nos mostrou em que direção fica Uruaçu.
Quando entrei na Internet para saber de mais dados sobre Santo Antonio do Potengi, encontrei a informação que existia ali o Engenho Potengi, de propriedade de Estevão Machado de Miranda, genro de Antonio Vilella Cid, dois mártires de Uruaçu.
Parti em direção a Uruaçu, passando antes pela igreja de São Gonçalo. Em 1688, batizou-se na Capela de São Gonçalo, Leocádia, filha de Manoel de Abreu Frielas e sua mulher Isabel Dornelas, esta última descendente de João Lostau de Navarro, sacrificado pelos holandeses..
Em todo esse percurso é visível o verde que toma conta das margens do Potengi. É por isso que muitos tinham suas moradas e engenhos em Santo Antonio do Potengi, Ferreiro Torto, Utinga e Igreja Nova. Pelos relatos da época da invasão holandesa, o meio de transporte entre essas localidades era através do rio Potengi.
Cheguei, finalmente, em Uruaçu e fui até o Santuário dos Mártires. A principio, nenhuma alma viva por ali. Comecei a tirar minhas fotos do local. Logo apareceu seu Sebastião que foi me orientando sobre as pinturas com as imagens dos martírios. Ali, também, senti a falta de material para subsidiar os visitantes que devem vir de todos os lugares. Nenhum folder e nenhum livro.
Seu Sebastião estava preocupado com a nova administração municipal. Não sabia o que seria do futuro dele. Expliquei para ele porque estava fazendo essa peregrinação por Santo Antonio do Potengi, Uruaçu, Ferreiro Torto e Utinga. Quando falei sobre a possibilidade de ser um descendente de Estevão Machado, apontou na direção de um morro onde se via algo parecido com uma pirâmide. Disse-me que era onde residiu a viúva Machado, tão conhecida da minha infância. Sai dali já me perguntando se a dita viúva não seria membro da família de Estevão. Vou verificar e qualquer dia desses passo por aquele local apontado por seu Sebastião.
Saí de Uruaçu e, estando a meio caminho entre São Gonçalo e Macaíba, fui em  direção desta última. De Macaíba segui na direção de Utinga, pensando dar uma esticada até Igreja Nova. Lá em Utinga rodei um pouco mais para verificar a proximidade com o Rio. Muitos caminhões trafegavam naquela estrada carregando areia do leito do Rio, e no seu trajeto iam vazando água, que escorria da areia, até Macaíba.
Em Utinga, aproveitei e entrei no estábulo onde Ojuara achou a botija. Estranho que um filme financiado pelo poder público não fizesse nenhuma menção a uma das localidades mais ricas da nossa história.
Meus amigos Gotardo Emerenciano e Bartola (Bartolomeu Correia de Melo) quando leram o artigo anterior sobre Utinga, informaram que seus avós falavam nessa localidade e no Engenho de Utinga. Eles tinham ascendentes por lá.
Antes de sair de Utinga, entrei em uma Escola Municipal, pensando em obter mais informações, principalmente, do Engenho de Utinga. A escola estava sem funcionar a certo tempo, disse uma senhora que morava lá e que já foi professora da dita escola. Nenhuma informação substancial. Perguntei pela distancia até Igreja Nova, e por ser pouco distante me mandei para lá.
Não encontrei nada de relevante em Igreja Nova. Fui lá porque li que Joris Garstman, que comandou o forte dos Reis Magos no tempo dos holandeses, morava por lá nessa localidade que se chamava Magalhães.

Paulo Leitão de Almeida e a Capela de Utinga

Paulo Leitão de Almeida e a Capela de Utinga

Estava em Pirangi lendo o livro de Augusto Tavares de Lira, História do Rio Grande do Norte, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha identificou-se Paulo Leitão de Almeida, 87 anos de idade, militar do Exército, formado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Militar de Engenharia,  foi  presidente da Companhia de Gás do Rio de Janeiro e Superintendente de Suprimentos da Hidrelétrica de Itaipu. Contou  que estava me ligando por recomendações do diácono Leilson, lá da Cúria Metropolitana e Prof. Xavier. Paulo está escrevendo um livro que, temporariamente, tem o título de Gotas de Saudade e precisava de mais informações sobre um ascendente dele, Agostinho Leitão de Almeida. O livro contém um capítulo sobre o pai de Agostinho, o Professor Régio de Português, no Recife, José Leitão de Almeida.
Coincidentemente, no livro de Augusto Tavares de Lira, citado acima, há uma pequena biografia de Agostinho Leitão de Almeida. Nela, Tavares de Lira  diz que tinha informações que Agostinho nasceu em Natal e que sua atividade política data de 1821. Outras informações dão conta que Agostinho nasceu na freguesia de São Pedro Gonçalves do Recife. Paulo busca, com insistência, os registros da Igreja Católica para identificar, toda a família de Agostinho. Por isso me procurou.
Aos 87 anos não descansa. Fui até sua casa para conversarmos. Expôs novamente as suas pretensões. Como eu tinha vasculhado alguns livros de registros de batismos, óbitos e casamento da Cúria e do Instituto Histórico era possível que tivesse encontrado alguma coisa relativa às buscas de Paulo. Na verdade, me lembrei de ter encontrado um documento onde constava o nome de Agostinho. Era o registro de casamento de José Ignácio Fernandes Barros, em 20/5/1820, onde Agostinho Leitão era uma das testemunhas. Do documento, a única informação mais útil é que nessa data ele era casado. Fiquei com o compromisso de tentar localizar entre minhas anotações mais algumas informações sobre Agostinho.
Outra coincidência que me chamou a atenção foi que durante a leitura do livro de Augusto Tavares de Lira, uma preocupação que passei a ter era tentar localizar Utinga. Na conversa que tive com Paulo ele fazia referências a essa localidade que sua família falava sempre.
Um dos massacrados em Uruaçu foi Estevão Machado de Miranda. Um dos meus ascendentes, João Machado de Miranda, batizou, em 1709, um filho na Capela de Utinga. Daí nasceu minha curiosidade de descobrir se havia algum parentesco entre meu ascendente e o mártir de Uruaçu.
Paulo, então, fez referência a um documento que estava com ele doado por  Câmara Cascudo  ao pai dele, Boanerges Leitão de Almeida. Era uma genealogia das famílias de Utinga, documento muito antigo, que Paulo preserva com muito zelo. Essa genealogia começa com o português Antonio Vilela Cid, um dos massacrados de Uruaçu, e sogro de Estevão Machado de Miranda.  Permitiu que eu fotografasse.
Essa genealogia era escrita, manualmente, no verso e anverso de uma folha razoavelmente grande. Deve ter sido escrita por volta de 1840.
Neste momento estou fazendo um esforço muito grande para transcrever o documento, mas já encontrei, na genealogia, vários personagens que estiveram presentes em batismos ou casamentos de descendentes de João Machado de Miranda, aumentando as evidências de que ele tinha algum parentesco com Estevão Machado de Miranda.
Essas coincidências me levaram a fazer uma visita a localidade chamada Utinga. Saí, na tarde do dia 5 de Fevereiro de 2009, em companhia de meu concunhado Aurino Simplício, de Macaíba, em direção a Igreja Nova a procura de Utinga.  No meio do caminho dobramos a direita e fomos parar na  Capela de Utinga. No seu frontispício estava cravada a data de 1785, uma data muita mais recente, do que a verdadeira data de sua construção. Deveria ser uma reforma, como aconteceu com a nossa Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. De qualquer forma, aquela é uma das mais antigas do Rio Grande do Norte. Chamava-se capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga. Chico de Utinga, morador  do Distrito, se orgulha dizendo que é a segunda mais antiga do Rio Grande do Norte. Felipe, um menino que foi buscar as chaves, informa que ali houve filmagens de "O homem que desafiou o diabo".
Dentro da Igreja encontramos uma placa de mármore, desgastada pelo tempo, quase rente ao chão com os dizeres; "Jazigo Perpetuo do Cap.m João Gomes Freire. Nasceo aos 23 de 10.bro  de 1817. Casou-se em Fev. de 1837. Falleceo a 20 de 8.bro de 1877. Foi Vice Presidente desta Província da Câmara Municipal e Juiz de Paz (ilegível). Sua inconsolável espouza em signal de saud.e e gratidão lhe mandou fazer este. PYAM." Pelo desgaste pode ser que alguns desses números ou nomes tenham sido transcritos errados.
Aquela localidade e aquela capela deveriam ser mais bem cuidadas pelo poder público. Fabio Arruda, estudioso dos engenhos do Nordeste, diz mais: "Aliás, esta Capela deveria ser tombada, no mínimo, pelo Estado do RN, mas deveria, ao certo, ser tombada pelo Patrimônio Histórico Brasileiro, quem dirá Internacional, em função do episódio do Uruaçu envolver membros de outros países."

De volta a Santana do Matos dos Alves e Fernandes

De volta a Santana do Matos dos Alves e Fernandes

Às vezes, uma pequena informação é suficiente para abrir novos caminhos para um pesquisador. A procura da relação dos Alves e Fernandes com os Martins Ferreira, no levou a esmiuçar os documentos de registros da Paróquia de Santana do Matos. O casamento de Absalão Fernandes da Silva Bacilon com Josefina Emília Alves Martins, nos apresentou aos pais de ambos. Como a presença de Antonio Fernandes da Silva, pai de Absalão, é contínua em vários documentos, fui atrás do seu casamento, já que não há quase informações sobre José Alves Martins, em Santana do Matos.
Façamos antes a transcrição dos batismos de dona Liquinha e seu Nezinho, pais de Aluizio Alves, que encontrei:
"Maria, filha legitima de Absalão Fernandes da Silva Bacilon, e Josefina Alves Fernandes = nasceu a dez de abril de mil oitocentos noventa e dois, e foi batizada solenemente por mim na Matriz a doze de junho do dito ano = foram padrinhos Militão Alves Martins e Firmina Maria Fernandes = do que para constar fiz este assento que assino = o vigário João Candido de Sousa e Silva."
"Manoel, filho de Manoel Alves Martins, e Maria Ignácia da Conceição, nasceu a dez de agosto de mil oitocentos noventa e quatro, e foi batizado solenemente por mim na Matriz a nove de setembro do dito ano = foram padrinhos Nossa Senhora das Dores, e Manoel Francisco Cordeiro = do que para constar fiz este assento, que assino. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
Antes mesmo de encontrar o casamento de Antonio Fernandes da Silva, recuando no tempo, encontrei o batismo de Absalão Fernandes da Silva Bacilon, pais de Dona Liquinha, que transcrevo a seguir:
"Absalam, branco, filho legitimo de Antonio Fernandes da Silva, e Sabina Maria da Silva, naturais e moradores nesta Freguesia, nasceu aos dezesseis de Outubro de mil oito centos e trinta e oito, e foi batizado com os Santos óleos na Matriz aos vinte oito de Dezembro do dito ano, por mim. Foram Padrinhos Manoel Álvares da Fonseca, e Maria Ignácia Rosalina Brasileira, solteiros: do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assinei. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva"
A madrinha de  Absalão, Maria Ignacia Rosalinda Brasileira,  era filha de Cosme Teixeira de Carvalho e casou, em 1840, com Vicente Ferreira Xavier da Cruz. Eles eram meus trisavós. Façamos agora a transcrição do casamento de Antonio Fernandes Silva, observando o parentesco dele com Sabina. Com isso recuperamos mais nomes dos ancestrais de Aluizio Alves e Aristófanes Fernandes:
"Aos vinte e oito dias do mês de Novembro de mil oito centos e vinte e nove pelas oito horas da manhã, nesta Matriz de Santa Anna do Mattos, depois de obtida as dispensas do terceiro grau de sangüinidade, e tendo precedido as Canônicas denunciações sem impedimento, confissão, e exame de doutrina  cristã ajuntei  em matrimonio e dei as bênçãos nupciais aos meus Paroquianos Antonio Fernandes da Silva, e Sabina Maria da Silva, naturaes, e moradores nesta Freguesia, ele filho legitimo de Manoel Álvares da Fonseca, e Anna Maria Barbosa , ela filha legitima de Francisco da Silva de Carvalho, e Maria Joanna, falecida, sendo Testemunhas Manoel de Barros, e Francisco Antonio, casados, desta Freguesia, do que para constar fiz esta assento, q' com as ditas testemunhas assino. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva".
Observe que o padrinho de batismo de Absalão tem o mesmo nome do pai de Antonio Fernandes da Silva. Por ser solteiro, acredito ser um irmão de Antonio Fernandes.
No artigo anterior apresentamos o casamento de João Antonio de Sousa, neto de João Martins Ferreira, um dos fundadores de Macau, com Anna Joaquina da Silveira, irmã do Barão de Serra Branca. Façamos o registro agora do casamento do pai do Barão, que ocorreu na Freguesia de Santana do Matos:
"Aos vinte e seis de fevereiro de mil oitocentos e vinte sete na Fazenda Conceição desta Freguesia de Santa Anna do Mattos pela oito horas da manhã, ajuntei em matrimônio e dei as bênçãos nupciais aos meus paroquianos Antonio da Silva de Carvalho, e Maria da Silva Velosa, naturais e moradores nesta Freguesia, ele filho legitimo de Antonio Silva São Tiago e Joanna Perpétua de Mello, ambos já falecidos, ela filha legitima do alferes Joaquim da Silveira Borges, e Anna Joaquina da Trindade, sendo testemunhas o capitão Francisco Alexandre da Costa, e o alferes Antonio Thomas Pereira, ambos desta Freguesia, do que para constar fiz este assento, que com as ditas testemunhas assino. O Vigário João Theotonio de Sousa e Silva."
 Observe, agora, que o sogro de Antonio Fernandes da Silva tem o mesmo sobrenome do pai do Barão de Serra Branca. Além disso Sabina tinha terceiro grau de consangüinidade com Antonio Fernandes. Talvez haja um parentesco entre Antonio da Silva de Carvalho e Antonio Fernandes da Silva. Dos livros da Freguesia de Assu, encontro o registro de casamento de José Alves Martins com Francisca Xavier de Oliveira, que acredito,   são os pais de Josefina Emília Alves Martins.
"Aos vinte e sete de novembro de mil oitocentos, e cinquenta, e dois, por três horas da tarde, de minha licença, o Padre Elias Barbalho Bezerra uniu em matrimônio, e logo abençou, no Sitio Curralinho, aos contraentes, meus fregueses José Alves Martins, e Francisca Xavier de Oliveira, servatis servandis: forão testemunhas João Martins Ferreira, e Antonio Fragoso de Medeiros; do que fiz este termo, em  que me - assino. Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, Vigário Colado de Assú."
Vejamos o registro de um irmão de Josefina Emília: As onze horas do dia vinte e nove de novembro de mil oitocentos e setenta e seis nesta Matriz, depois dos proclamas do estilo,  exame de doutrina cristã e confissão sacramental, o Reverendíssimo Pároco Ladislau Adolpho Salles Silva uniu em matrimônio e deu logo as bênçãos nupciais aos contraentes João Alves Martins, e Maria Agnelina Fernandes, meus paroquianos: ele filho legítimo de José Alves Martins e Francisca Martins Oliveira, já falecidos; e ela filha legitima de José Alves Fernandes e Anna Maria do Amor Divino: foram testemunhas Antonio de Carvalho Sousa, solteiro, e José Joaquim Sousa, Casado. Do que para constar autorizado pelo Exmo e Rmo Monsenhor Vigário Capitular, fiz este termo que assino. O Vigário Manoel Gonçalves Soares Amorim.
Sobre o padrinho de seu Nezinho, Manoel Francisco Cordeiro, que acredito ser avô materno dele, transcrevo seu casamento: Aos nove de julho de mil oitocentos e sessenta e dois, pelas onze horas do dia, no Sítio Malhada Vermelha, desta Freguesia, uni em matrimônio e dei as bençãos nupciais, tendo precedido exame de doutrina cristã, e confissão, aos contraentes, meus paroquianos, Manoel Francisco Cordeiro e Maria Joaquina da Conceição, ele, filho legítimo de Manoel Francisco Cordeiro e Antonia Maria da Conceição, e ela, filha legítima de Alexandre Marreiros Dourado e Damásia Maria da Conceição, foram testemunha Julião Vitorino da Silva, solteiro, e João Francisco de Paula, casado. Coadjutor Pró Pároco Belísio Lins de Albuquerque.
Os pais de Manoel Francisco Cordeiro, de mesmo nome, era português, como podemos ver do casamento, nesse mesmo Sítio acima: Aos dois dias do mês de março de mil oitocentos e quarenta, no Sítio Malhada Vermelha, desta Freguesia de Santa Ana do Matos do Assú, pelas novas horas do dia, tendo precedido as canônicas denunciações, sem impedimento, e obtida a fiança dos proclamas do nubente, depois de confissão e exame em doutrina cristã, ajuntei em matrimônio e dei as bênçãos nupciais, aos meus paroquianos Manoel Francisco Cordeiro com Ignácia Maria da Conceição, aquele, filho legítimo de Antonio João Cordeiro, e de sua mulher Maria Pacheco de Miranda, e esta filha legítima de Manoel Antonio Dourado, já falecido, e sua mulher Thereza Maria de Jesus, o nubente natural da Ilha de São Miguel, e ela, desta, e nela moradores; foram testemunhas Francisco Antonio Dourado, casado, e Álvaro Marreiros de Oliveira, moradores nesta Freguesia. Vigário João Theotônio de Sousa e Silva.
Nos registros acima, os nomes da esposa do português Manoel Francisco Cordeiro são diferentes: um Antonia, noutro Ignácia

Os Alves e os Fernandes

Os Alves e os Fernandes

"Os Alves Fernandes e os Rodrigues do Baixo Açu e Macau eram do clã do velho José Martins em cuja fazenda Cacimbas do Vianna nasceu mamãe", escrevia Miguel Trindade Filho, meu pai, em uma carta para o sobrinho João Batista de Melo Pinto. Durante minhas pesquisas, foram infrutíferas minhas consultas para encontrar o elo dessas ligações. Minha irmã, Maria Josefina, disse muitas vezes que Maria Josefina Martins Ferreira, nossa avó, neta do Major José Martins Ferreira e Josefina Maria Ferreira,  repetia, sempre, que era prima de Manoel Alves Filho (seu Nezinho) e de Maria Fernandes Alves ( dona Liquinha), pais de Aluízio Alves. Parecia simples encontrar o elo, bastava saber quem era os pais dos dois. Encontrei no memorial de Aluízio Alves os pais de dona Liquinha e no livro de Zélia Alves os pais de seu Nezinho. Mas mesmo com essas informações, não consegui comprovar as afirmações, embora houvesse indícios de verdade. Concluí um livro de genealogia, que lançarei agora no dia 10 de Março, sem poder incluir os ancestrais dessas duas famílias da região,  que possivelmente descendem do morador da Ilha de Manoel Gonçalves, João Martins Ferreira, administrador das terras de Bento José da Costa,  que saiu de lá para povoar Macau.

Os pais de seu Nezinho eram Manoel Alves Martins e Maria Inácia Martins e os de dona Liquinha, Absalão Fernandes da Silva Bacilon e Josefina Emília Alves Martins. Tentei junto a familiares dos Alves e dos Fernandes alguma informação que ajudasse na pesquisa, mas não consegui muita coisa. Por fim, resolvi reler meus alfarrábios para encontrar alguma luz. Achei o casamento de Absalão e Josefina que transcrevo a seguir, da forma que estava escrito:

"As três horas da manhã do dia dez de Janeiro, de mil oitocentos e setenta e nove, nesta Vila de Sanct' Anna do Mattos, em Oratório privado, servatis servandis juxta tridentinum, uni em Matrimonio, e dei logo as bênçãos nupciais aos contraentes, meus Paroquianos, Absalão Fernandes da Silva Bacilon, e Josefina Emília Alves Martins; ele filho legitimo de Antonio Fernandes da Silva, e Sabina Maria da Silva; e ela filha legitima de José Alves Martins, e Francisca Maria Martins; todos quatro já falecidos: presentes por testemunhas João Alves Martins, João Martins Ferreira, e Manoel Thomas Pinheiro, todos os três casados, e moradores nesta Freguesia; do que fiz este assento, e assino. O Padre Antonio Germano Barbalho Beserra, encarregado da (ilegível) da Freguesia."

As presenças de Antonio Fernandes da Silva e Absalão são constantes nos documentos da Freguesia de Santana do Matos, diferentemente dos outros personagens presentes no referido casamento. Encontrei outros registros de casamento de filhas de Antonio Fernandes da Silva e Sabina Maria da Silva: Rosalina Perolina da Silva que casou com Joaquim Francisco da Silva, em julho de 1852; Firmina Maria Fernandes da Silva que casou com Manoel Gomes da Silva, em janeiro de 1878; e Lucina Adelaide Fernandes da Silva que casou com José Martins Ferreira da Costa, em novembro de 1864.

A intuição me diz que José Alves Martins, o pai de Josefina Emília e Manoel Alves Martins, pai de seu Nezinho, são os elos com os Martins Ferreira. Por outro lado, três  genros do velho João Martins Ferreira são Fernandes, e alguns dos filhos deles têm Alves no sobrenome, como é o caso de João Alves Fernandes, filho de José Joaquim Fernandes e Maria Martins Ferreira.

João Martins Ferreira, uma das testemunhas do casamento de Absalão, pode ser um dos irmãos de Francisco Martins Ferreira, meu bisavô, pai de Maria Josefina Martins Ferreira. Com certeza, com mais algumas informações complementares, comprovarei as afirmações de Maria Josefina e de Miguel Trindade. Talvez os registros de casamentos de José Alves Martins e Manoel Alves Martins fossem suficientes para encerrar a questão.
Por fim, nos registros de Santana do Mattos, encontrei o casamento de um dos netos de João Martins Ferreira que transcrevo:

"Aos vinte e dois de Novembro de mil oitocentos  cinquenta e dois, nesta Freguesia de Sanct' Anna do Mattos, depois das denuncias de estilo sem impedimentos, confissão, e exame de Doutrina Cristã, o Vigário João Theotonio de Sousa e Silva, nesta Matriz, pelas nove hora da manhã, unio em Matrimonio just. Trid.  E deu as Bênçãos Nupciais, a João Antonio de Sousa, filho legitimo de Antonio Joaquim de Sousa, e Thomásia Martins Ferreira, da Freguesia dos Angicos, com Anna Joaquina da Silveira, filha legitima de Antonio da Silva Carvalho, e Maria da Silva Velosa; forão testemunhas Felippe Nery de Carvalho Silva, solteiro, e Balthasar de Moura e Silva, casado. Do que para constar fiz este assento, que assino. O Paróco – Coadjutor João Ignácio de Loyolla Barros." Antonio Joaquim era um dos genros de João Martins Ferreira que não tinha o sobrenome Fernandes. Felipe Nery foi agraciado em 1888 com o título de Barão de Serra Branca.

Natal, 409 anos de fundação

Natal, 409 anos de fundação

Pode não parecer, mas esta cidade do Natal vai completar, agora, no final de 2008, seus 409 anos de idade. Qualquer visitante desconfiaria dessa informação. Nada aqui parece indicar que esta cidade é tão antiga. Eu acredito que muito tempo antes de sua fundação já houvesse uma boa movimentação por aqui. Muitas coisas ao longo do tempo contribuíram para dar a nossa cidade um ar de jovialidade.
Embora, Koster tivesse afirmado que nos primeiros anos do século XIX só houvesse por aqui em torno de 700 pessoas, a nossa freguesia já registrava uma boa atividade nas suas redondezas.
Como Secretário de Administração visitei muitas capitais brasileiras para participar do Fórum de Secretarias Municipais das Capitais e ouvi de pessoas de todo o Brasil elogios e mais elogios sobre a nossa cidade.
Aqui mesmo, realizamos, agora em Novembro, o 47º Fórum e, para surpresa nossa, batemos o recorde de participação, mesmo levando em conta que todos os secretários estavam envolvidos com o encerramento dos mandatos dos atuais Prefeitos e as transições em suas cidades. Mas vieram, e vieram por Natal. Boa parte já conhecia a cidade, pois já vieram muitas vezes e prometem vir muitas vezes mais.
Não vejo reclamarem de nada, tudo é elogio ao contrário de algumas figuras que vivem  por estas plagas. Figuras que falam de caos no trânsito por que não sentiram de perto o caos que existe em outras cidades; falam de falta de saneamento por que desconhecem o que ocorre em muitas cidades mais ricas que a nossa; falam da saúde por que não vivem o dia a dia das outras cidades; falam da educação por que só olham para a escola pública e não observam o volume enorme de escolas privadas de má qualidade de ensino desta cidade.
Temos os nossos defeitos é claro. Entre eles está a falta de participação de muitos na qualidade de vida de nossa cidade. Muitos vivem do poder público e só esperam alguma coisa dele. Ao poder público cabe uma parte da responsabilidade pela cidade, mas boa parte desta cidade é da responsabilidade de todos nós.
Olhando os códigos de conduta dos municípios do Rio Grande do Norte, no século XIX, observamos que se eles tivessem sido obedecidos nossas cidades seriam bem melhores. Cidadania não é só busca dos direitos, mas antes de tudo cumprimento de deveres que não carecem de formalizações legais, mas sim de educação.
Nas ruas encontramos a tradução da falta de compromisso de muitos com a nossa cidade. Os educados, com curso superior, inclusive, formados nas mais diversas profissões, não se comportam de acordo com os ensinamentos que tiveram. As calçadas são feitas da forma que querem; Na hora das reformas amontoam entulhos e materiais de construção nas calçadas, nas ruas ou nos canteiros; pagam, muitas  vezes, aos carroceiros para levar os materiais inservíveis de suas casas para os terrenos alheios e às vezes bem próximos de suas casas; de uma casa só saem três ou quatros carros, com uma pessoa só dentro deles, para congestionar o trânsito e os estacionamentos; muitos terrenos permanecem por muitos anos sem uso, não são cercados e não são mantidos limpos.
As ruas vivem constantemente sujas pelas mãos de seus habitantes. Garrafas, sacos plásticos, isopor e papeis se deslocam pelas ruas, entulhando as bocas de lobo. Muitos educados jogam os esgotos  de suas casas para as lagoas e, outros, as águas da chuva para os tubos de esgotos sanitários.
Está na hora de pensar a nossa cidade com o envolvimento de todos os seus habitantes. As campanhas educativas devem estar presentes o tempo todo nos meios de comunicação. Todos devem se envolver, inclusive, os jornais e as emissoras de rádio e de televisão. Os meios de comunicação devem sugerir mais e criticar menos. A Câmara Municipal deve ter um departamento ou Instituto que estude medidas que possam melhorar o funcionamento da nossa cidade. As escolas públicas e privadas precisam rever os seus programas e currículos. Não pode a cada  reclamação  enxertar uma matéria no currículo. Muitas ações podem ocorrer paralelamente. Os conselhos de bairros ou de comunidades, os conselhos tutelares, os conselhos municipais de educação e de cultura, as universidades, as associações de classe e todos os organismos presentes nesta cidade devem começar a pensar em uma forma de ajudar a cidade sem precisar cobrar do poder público.
Vamos cuidar do nosso patrimônio histórico, dos nossos museus, das nossas bibliotecas e das nossas ruas. A nossa cidade, pela idade, podia ser um grande museu. Já no aeroporto, o visitante  saberia quem foi Augusto Severo. Cada rua com nome de personagem da nossa história conteria um pequeno painel sobre aquela figura. Todas as ruas seriam estações de visita. Mermoz, Maryse Bastier, Palumbo, André de Albuquerque, Antonio Basílio, Nascimento Castro, Frei Miguelinho podiam ser revividos com tais painéis.
"Uma" Feliz Natal para todos e um ano de 2009, mais rico de proposta para a nossa cidade.

Notícias do Patriarca da Região de Angicos, João Barbosa da Costa

Noticias do Patriarca da Região de Angicos, João Barbosa da Costa

Nestor Lima, no seu trabalho sobre os Municípios, no capítulo sobre  Angicos, ao se referir a família de Antonio Lopes Viégas, escreveu: "Pode se dizer que foi somente essa família unida á de João Barbosa  que constituiu o povo do município."
Aluizio Alves, posteriormente, no seu livro Angicos, escreveu: "Assim aconteceu em Angicos, cuja fundação foi iniciada por Antonio Lopes Viégas, descendente de uma família Dias Machado, da qual não encontro maiores referências." Mais adiante, quando escreve sobre Miguel Francisco da Costa Machado, diz: "Casado com D. Anna Barbosa da Conceição, e descendentes, ambos, da família Lopes Viégas, em terceira geração, desempenhou todos os cargos da Guarda Nacional, a partir de Capitão, chegando até ao Comando logo que adquiriu a patente de Coronel".
Procurei, inutilmente, antes de escrever o livro Servatis ex More Servandis,  mais informações sobre João Barbosa da Costa. Dele sabia que era sogro do Tenente Antonio Lopes Viégas,  foi testemunha na escritura da compra,  por parte do genro,  do lugar chamando Angicos,  e os nomes de alguns filhos, encontrados em desenho da árvore genealógica do escritor Afonso Bezerra. Nem  o nome da esposa de João Barbosa encontrei. Também não consegui localizar  qualquer membro da  família Dias Machado, citada por Aluizio Alves.
Procurei em vão o nome dos pais de Miguel Francisco da Costa Machado e Anna Barbosa, sua esposa. Uma pista surgiu a partir de um registro de casamento onde constava que José Pedro Xavier da Costa era seu sobrinho. Procurei os pais de José Pedro, pois pela informação acima, um deles seria irmão ou irmã de Miguel Francisco.
Mas, agora, no mês de Julho de 2008, encontrei um registro de casamento, datado de 1774, no IHGRN, onde surgem informações mais preciosas. Por isso, e a favor dos descendentes e da História do Rio Grande do Norte, transcrevo aqui:
"Aos dezessete de Novembro do ano de mil Setecentos e Setenta e quatro as Sete para oito horas do dia Corridos os banhos juxta Tridetinum sem se descobrir impedimento algum ate a hora de seu recebimento, na Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres e Sam Miguel da Villa de Extremoz de licença minha em presença do Padre Francisco de Souza Nunes vigário da mesma Vila e das testemunhas Tenente Antonio Lopes Viégas, casado e o ajudante Pedro Moreira de Azevedo casado, e moradores na Freguesia de Sam Joam Baptista do Assú examinados da Doutrina Cristã declararam em face da Igreja, e com palavras de presentes os Nubentes Francisco Xavier da Cruz filho legitimo de Joam Barbosa da Costa e Damasia Soares morador na Freguesia de Sam Joam Baptista do Assú com Lourença Dias da Rosa filha legitima de Antonio Dias Machado e Francisca Lopes Xavier moradores nesta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, e logo receberam as Santas Bênçãos na forma do Ritual Romano de que mandei fazer este assento, em que me assinei. Pantaleão da Costa Araújo Vigário do Rio Grande"
O documento acima do casamento de Francisco Xavier, além de revelar o nome da esposa de João Barbosa, revela também um membro da família Dias Machado, tão procurada por Aluizio Alves.
Os pais de José Pedro Xavier da Costa eram Pedro Francisco da Costa  e Joaquina Maria de Santana ou Xavier. Joaquina era filha de Francisco Xavier e Lourença Dias da Rosa. Antes, eu suspeitava que Miguel Francisco fosse irmão de Pedro Francisco. Mas, agora, sabendo que Lourença era descendente de um Machado, e que o próprio Miguel Francisco, tinha uma filha de nome Antonia Lourença Dias da Rosa (minha tia bisavó e casada com meu bisavô Francisco Martins Ferreira), defendo a tese que Miguel Francisco da Costa Machado era filho de Francisco Xavier da Cruz (ou Costa) e Lourença Dias da Rosa. Restaram duas dúvidas com essas informações acima. A primeira, se Miguel Francisco, descendia também de Antonio Lopes Viégas, e a segunda se, realmente, Antonio Lopes Viégas descendia de uma família Dias Machado. Vejam que a mãe de Lourença tinha sobrenome Lopes.
Para ajudar mais ainda nas pesquisas sobre as famílias da região de Angicos, vamos recuar um pouco mais no tempo, até o ano de 1757, e transcrever o casamento de Antonio Dias Machado e Francisca Lopes Xavier:
"Aos três de julho de mil setecentos e cinquenta e sete na Matriz desta cidade do Rio Grande do Norte, freguesia de Nossa Senhora da Apresentação dispensados os banhos pelo Reverendíssimo Senhor Doutor Visitador Frey Manuel de Jesus Maria, sem haver impedimento, como da informação do Reverendo vigário o Doutor Manuel Correa Gomes, consta, dada por despacho do dito senhor em uma petição dos nubentes, e juntamente dispensados o parentesco de segundo grau de consaguinidade por sentença de dito Reverendo Senhor por causa pelos ditos Nubentes justificadas, e consta na dita sentença como dela extraída dos autos consta  por mandado do dito senhor e de licença do dito Reverendo vigário com presença do Padre Coadjutor João Tavares da Fonseca, e das testemunhas que com ele assinaram Sargento Mor Manuel Antonio Pimentel de Mello e o Tenente Francisco Pinheiro Teixeira se casaram solenemente em face da Igreja Antonio Dias, filho legitimo de João Machado de Miranda e D. Leonor Duarte já defuntos, com Francisca Lopes Xavier, viúva que ficou por falecimento do seu primeiro  marido   Nicacio  Duarte, filha legitima de Luiz Duarte e de Lourença Lopes Xavier naturais desta freguesia e nela moradores no lugar chamado Potigi e logo receberão as bênçãos conforme os ritos da Santa Madre Igreja de q mandou o Reverendo Doutor Vigário encomendado  fazer este assento em que assinou. João Freyre Amorim Vigário"
Francisco Xavier da Cruz recebeu a patente de Alferes da Companhia do Capitão Luis José de Araújo Picado, uma das do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de Princeza de que era Coronel Jerônimo Cabral de Oliveira, que vagou por passar a Tenente da mesma Companhia João Manuel da Costa que o exercia, no ano de 1802. João Manuel era irmão de Francisco.

João Barbosa da Costa e Antonio Lopes Viégas

João Barbosa da Costa e Antonio Lopes Viégas

Todos os povos têm suas lendas. Há lendas que se repetem em muitos lugares, mudando apenas os personagens. Angicos, também, tem uma lenda, que faz parte de sua tradição oral. Contam os mais antigos que um vaqueiro foi comprar mercadorias em São Gonçalo e, na volta, se apresentou um adolescente, se dizendo órfão de pai e mãe, querendo acompanhá-lo para o Sertão.
O vaqueiro trouxe o jovem para a Fazenda Angicos. Lá começou como ajudante, e depois com a morte do seu benfeitor, assumiu o posto de administrador da Fazenda.
Depois de muitos anos como vaqueiro daquela Fazenda, conta a tradição, ele comprou, do Coronel Alexandre Ferreira da Cunha, aquelas terras. Seu nome era Antonio Lopes Viégas.
Presente, ao ato de escritura, como testemunha, estava João Barbosa da Costa, seu sogro, não se sabe se antes ou depois da compra. A Fazenda prosperou, Antonio Lopes Viégas constituiu uma família numerosa, e é considerado o fundador de Angicos. Sua esposa, e filha de João Barbosa, se chamava Anna Barbosa da Conceição.
Seus filhos e filhas, em número de 11, segundo alguns, se casaram, com exceção de Damásia Lopes Viégas que morreu solteira, com a idade de 70 anos.   Partes das famílias Teixeira de Sousa, Martins dos Santos, Pereira Pinto, Baptista de Oliveira, Bezerra, Costa, Cruz, Xavier, Avelino, e muitas outras descendem de Antonio Lopes Viégas.
Um dos contadores dessa tradição é Aluizio Alves, no livro "Angicos". Outro que conta mais ou menos a mesma historia, é Nestor Lima, quando fala sobre Angicos, em um trabalho sobre os Municípios do Rio Grande do Norte da Coleção Mossoroense. A primeira edição é de 1929 e, portanto, anterior ao livro que Aluizio escreveu. Eles divergem sobre o nome do vendedor. Segundo Nestor Lima era Alexandre Francisco da Costa, representando Miguel Barbalho Biserra, o verdadeiro dono das terras. Aluizio faz a transcrição da escritura de Venda.
Eu recebi, também, cópia de um documento que foi escrito sobre papel timbrado com o nome de Jacob Avelino Bezerra, que comercializava fazenda, miudezas, molhados, ferragens e louças, além de comprar algodão pelos melhores preços do mercado. Está no documento.  Era o desenho de uma árvore genealógica do escritor Afonso Bezerra. Era endereçada a Pedro Antas, em Epitácio Pessoa, no ano de 1949 ou 1944.  Na base da árvore estava o nome do escritor e no topo o nome de João Barbosa. Filhos de João Barbosa nessa árvore são quatro, Anna Barbosa de Antonio Lopes Viégas, Francisco Xavier casado com Verônica, Capitão João Manoel da Costa casado com Angélica Maria da Conceição e Antonio Barbosa da Costa casado com Claudiana Francisca Bezerra. Outras personagens que aparecem na árvore são Balthasar da Rocha Bezerra, Pedro Francisco da Costa, Antonio de Sousa Monteiro e o Capitão Vicente Ferreira Barbosa. A linhagem do nosso grande escritor era realmente rica.
A participação dos descendentes de João Barbosa para o desenvolvimento da região, que compreende Angicos, Afonso Bezerra, Pedro Avelino e Assú, foi grande. Descendem dele, em linha direta, segundo a árvore de Jacob e outros documentos da Igreja, o Capitão João Manoel da Costa, João Manoel da Costa e Mello, Vicente Ferreira da Costa e Mello do O', Sabina Martins dos Santos, esposa de Agostinho Barbosa da Silva, Manoel Vieira da Costa, Tenente Antonio Francisco Bezerra da Costa, Alexandre Avelino da Costa Martins, João Ignácio Pereira Pinto e João Pereira Pinto Junior, ambos filhos de João Pereira,  e o Capitão Antas.
Quase nada sei sobre esse personagem, além de ser ascendente de várias famílias importantes do Rio Grande do Norte. A procura por mais dados tem sido infrutífera. Nada, nos registros da Igreja que encontrei. Nenhum registro em livro, a não ser que era um português residente na Vila de Princesa (Assú) e sogro de Antonio Lopes Viégas. Procurei por várias vezes o Cartório de Assú, na tentativa de encontrar uma escritura, um registro de terras ou uma partilha, mas infelizmente não recebi nenhuma resposta. Nas datas e sesmarias, nenhuma referência.
Fica faltando, portanto, para completar as biografias de ilustres figuras do nosso estado, maiores informação sobre João Barbosa da Costa. De onde veio, o que fazia e quem era sua esposa. Na sua descendência encontramos, entre outros, senadores, deputados federais, deputados estaduais, vereadores, prefeitos, intendentes, diplomatas, fundadores e membros da Academia Norte-riograndense de Letras, juízes, professores de Universidades, escritores, poetas, pintores, jornalistas.
Quem descobrir alguma coisa, sobre esse ilustre ascendente, me avise.