terça-feira, 31 de maio de 2011

Macau, relatos de uma viagem

Macau, relatos de uma viagem
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Um dia desses, sugeri a vice-reitora da UFRN, Ângela Paiva, uma reportagem ou documentário da TVU sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Mesmo sabendo das dificuldades para se fazer esse tipo de trabalho pelo interior do Rio Grande do Norte, após escutar as minhas considerações, prometeu encaminhar a dita sugestão para exame da TVU. Assim, diante dessa possibilidade conversei com algumas pessoas desse órgão.
Em seguida, enviei via e-mail, algumas informações e artigos que fiz sobre a Ilha de Manoel Gonçalves. Conhecedor de muitos anos da burocracia pública (a privada não é menor), tive que esperar pacientemente os resultados dos estudos. Dentro das repartições públicas, muitas solicitações vão perdendo fôlego a medida que passam de uma mão para outra. Além disso, a rotina própria da TVU, as atividades já programadas e as dificuldades para se fazer imagens no interior poderiam adiar aquele sonho.
Outro dia, aproveitei um momento de audiência com a vice-reitora para informar do andamento da solicitação. Atenta, ao que expus, sugeriu de imediato que fosse aproveitado o dia de inauguração de uma obra em Macau para fazer a dita reportagem. E, assim, aproveitei aquele mesmo dia para ir a TVU. Fui recebido por Washington que se interessou pelo assunto, fez algumas perguntas e disparou uma série de providências para aproveitar a data do dia 21 de Maio. Conversei, também, com Regina Barros que se dispôs a ir até sua terra Macau para providenciar alguns contatos para a realização da reportagem.
No dia 21 de maio, peguei carona com Sergio Henrique, escalado para cobrir o evento, e o grupo de reportagem da TVU e fomos para Macau, logo cedo da manhã.
Em Macau, após a inauguração comandado pelo Reitor José Ivonildo, fomos para as ruas de Macau, pois, além da matéria sobre o evento da UFRN, duas outras matérias seriam feitas: um sobre turismo em Macau e outra sobre a Ilha de Manoel Gonçalves.
Uma das filmagens foi sobre a ponte para ilha de Santana. Enquanto eles filmavam perguntei a uma senhora, de umas das casas da rua que dá acesso a ponte, o nome daquele local. Ela disse que aquela rua se chamava Manoel Gonçalves e era conhecida por rua da Maré. Avistei uma placa e a fotografei, embora o nome da rua já estivesse pouco legível.
No começo da tarde fomos ao Museu José Elviro, onde foram entrevistados Gilson Barbosa, que coordena o Museu, e Regina Barros. Lá foram colhidas imagens de três objetos que vieram da Ilha de Manoel Gonçalves: o sino da Capela de Nossa Senhora da Conceição, a base do cruzeiro, e uma pequena campainha da mesma Capela. Eu aproveitei para fotografar outros objetos, como uma mala de pregaria que foi de Vicente Maria da Costa Avelino, pai do jornalista Pedro Avelino. Fotografei novamente uma placa do jazigo do Barão de Ipojuca, que foi enterrado em Macau, objeto de um artigo de Câmara Cascudo.
Aqui, cabe um comentário sobre o Museu. Após várias visitas que já fiz ao mesmo, sinto que um cartão de visita de Macau, como é o Museu José Elviro, merece uma atenção maior do poder público e também das empresas privadas da região. Infelizmente, ele não está sendo bem cuidado.
Depois seguimos para Igreja Matriz. Lá deveríamos fotografar o Cruzeiro e a imagem de Nossa Senhora da Conceição que vieram da Ilha. Embora, estivesse marcado para o horário entre 14 e 15 horas, o padre nem a secretária estavam lá. Segundo um rapaz que nos atendeu, pelo que ele sabia, nós só chegaríamos lá pelas 17 horas. O cruzeiro foi filmado, mas para surpresa nossa a imagem de Nossa Senhora, com mais de 150 anos, não estava mais na Matriz. O mesmo rapaz que nos atendeu informou que ela foi para o CEIMH – Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório. Anteriormente, essa imagem ficava na parte superior da Matriz, e era visível pelo lado de fora. Mas, segundo o rapaz ela foi movida porque estava se estragando por conta do sol. Não havia necessidade dela sai da Matriz, lá tem muito espaço para muitas Nossas Senhoras, e principalmente, uma relíquia como é a da Ilha de Manoel Gonçalves.
Antes de ir para o CEIMH, fomos para a praia de Camapum, para fazer imagens da possível localização da Ilha e para novas entrevistas sobre turismo em Macau.
Sobre a localização da Ilha, a partir da praia de Camapum, há controvérsias. Em uma de minhas idas anteriores, Benito Barros, tinha me levado até a praia e dava a entender que ela se situava do lado esquerdo. Ailton Marques, com quem conversamos durante a solenidade da UFRN, dizia que era do lado direito. De qualquer forma foram feitas imagens dos dois lados. Entretanto, com as informações do inventário de Domingos Affonso Ferreira é possível, hoje, com a ajuda de um cartógrafo encontrar a verdadeira localização da Ilha. Getulio Moura, lá do Assu, nos mandou um e-mail com algumas informações sobre a localização, que não deu tempo de examinarmos com mais cuidado, mas foi entregue ao repórter  Sérgio Henrique. No Museu João Elviro, Regina Barros fez algumas considerações sobre a Ilha, e lá em Camapum dei algumas informações do meu conhecimento, colhidas nos livros de registros da Igreja e em outros documentos e livros.
Aqui, mais um comentário. Ali naquela praia de Camapum já devia ter uma seta indicando o local onde foi a Ilha. Mais ainda, no local onde foi a Ilha deveria ter umas bóias. Deveria também, a partir da praia, haver uns barcos que levassem os turistas até o local onde foi a Ilha. Simples assim.
Da praia fomos para o CEIMH em busca da imagem de Nossa Senhora da Conceição.  O vigia nos levou até a capela. Lá estava a imagem em cima de um pedestal, sujeito a um tombo a qualquer momento. Alguma coisa naquela imagem me chamou a atenção, mas não consegui me lembrar o que era. Já de volta ao carro, abri o livro que escrevi e procurei a imagem que tinha fotografado em 2007. A imagem que está no CEIMH estava sem a coroa. Onde está a coroa de Nossa Senhora?
É estranho o descuido com as nossas relíquias. O Cruzeiro está na Matriz, a base do Cruzeiro, o sino e a campainha no Museu, e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, perdida e vulnerável na Capela do Centro de Educação Integrada Monsenhor Honório.
A Ilha de Manoel Gonçalves pode não ressurgir fisicamente, mas tem que ressurgir na memória dos muitos habitantes daquela região do antigo Assu. Saímos de Macau, no final da tarde.

João Lostau Navarro e a petição de Francisco Lopes

Ruínas de Pium - casa forte de João Lostau
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
Entre os ascendentes de famílias do Rio Grande do Norte, talvez, o mais antigo que se conhece e, que morava nesta Capitania, é João Lostau  Navarro. Recebeu várias sesmarias na nossa Capitania, sendo a primeira em 1 de março  de 1601, onde tinha um Porto de pescaria. Há quem diga que chegou aqui com Duarte Coelho, em 1534. Segundo nossos historiadores ele foi sogro de Joris Garstman, holandês que comandava o Forte dos Santos Reis Magos, na época da presença holandesa no Rio Grande do Norte, e de Manoel Rodrigues Pimentel, Escabino dessa mesma época.
Até o presente momento, não estou convencido que Joris Garstman casou com uma filha de João Lostau. Não vi nenhum documento que garantisse a veracidade dessa afirmação. Pela importância desse holandês, aqui no Rio Grande do Norte, algum registro na Holanda, no Brasil ou em Portugal deveria trazer informações desse casamento. Alguns historiadores dizem que ele mandou matar Jacob Rabe, por este ter assassinado seu sogro João Lostau. Segundo Hélio Galvão, Joris Garstman casou com Beatriz Lostau Casa Maior e são os pais de Teodósio de Grasciman e Isabel de Grasciman. Também não sei como Hélio Galvão obteve essa informação. Nos documentos relativos a Teodósio, que ele apresenta no seu livro História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, não há nenhuma indicação dessa filiação, embora ele, Teodósio, afirmasse, em 10 de dezembro de 1708, que era morador nesta capitania com mulher e filhos há mais de quarenta anos. Afirmou, também, noutro documento ser casado com Paula Barbosa, filha do sargento-mor Francisco Lopes, neta de Manoel Rodrigues Pimentel e bisneta de João Lostau.
 
Com relação a outra filha de João Lostau, Maria Lostau Casa Maior, a documentação apresentada por Hélio é convincente, principalmente a escritura de dote, datada de 13 de abril de 1626,  para ela, que estava noiva de Manoel Rodrigues Pimentel.
 
Outro documento interessante, de conhecimento de muitos, está no livro das Sesmarias do Rio Grande do Norte. É nesse documento que encontramos uma petição do Sargento-mor Francisco Lopes, solicitando alvará de confirmação de terras que foram de João Lostau. José Augusto publicou na Revista do Instituto do Ceará um artigo intitulado Norte-rio-grandense de mais de trezentos anos, onde fala sobre dita petição. 
 
O documento que se encontra no livro das Sesmarias do Rio Grande do Norte é uma cópia, onde faltam partes e há trechos ilegíveis. De qualquer forma pudemos extrair alguns trechos com informações significativas.
 
O sargento-mor Francisco Lopes, na petição citada acima, morador na Capitania do Rio Grande, afirma que é casado com uma filha legítima de Manoel Rodrigues Pimentel, e neta de João Lostau Navarro, o qual deixou a sua dita mulher, por ser única herdeira, todos os bens. Informa, também, na petição que o  dito João Lostau Navarro foi preso pelos flamengos e morto pelos tapuias. Disso resultaram perdas dos documentos de datas e sesmarias e de compras de terras, também, de seu sogro Manoel Rodrigues Pimentel. Por isso, ele estava solicitando esse alvará de confirmação para tomar posse das terras que pertenceram ao avô de sua mulher e ao seu sogro.  Pelo documento, se vê que ele era casado com Joanna Dornelles, em face da Igreja, filha de Manoel Rodrigues Pimentel e neta de João Lostau, morto pelos tapuias depois de sair da prisão.
 
 Um dos trechos que gera confusão é a afirmação que aparece na dita petição: Por ser herdeiro de João Lostau e Luiz da Moita (é o que parece escrito) e ser casado com uma neta do mesmo João Lostau Navarro. Para alguns seria Luiza da Mota esposa de João Lostau, para outros poderia ser a esposa de Manoel Rodrigues Pimentel. Entretanto, essa última versão não prospera, pois, como vimos antes, a filha de João Lostau que casou com Manoel Rodrigues Pimentel era Maria Lostau Casa Maior. Como era uma cópia há a possibilidade de ter sido feita uma transcrição errada e no lugar de Luiz da Moita ser outro nome.
Outro documento importante apresentado por Hélio Galvão é um testamento de Cipriano Lopes Pimentel, datado de 19 de dezembro de 1729. Nele Cipriano Lopes declara que é filho do sargento-mor Francisco Lopes e de sua mulher Joanna Dornelles. Apresenta sua esposa Dona Tereza da Silva, filha de Filipe da Silva e Joana Salema. Na sequência nomeia como seus filhos, da sua dita mulher: Lázaro Lopes Galvão, Cipriano Lopes Galvão, Jorge Lopes da Silva, Arcângelo Lopes, Estevão Lopes, Manoel Lopes e Dona Luiza da Silva, casada com o sargento-mor Manoel Álvares Maciel. Esses Lopes Galvão encontramos, através dos registros da Igreja, espalhados por várias cidades do Rio Grande do Norte.
João Lostau, por sua importância, merece uma biografia mais extensa.
João Lostau . Luiz da Moita

Crime de lesa-patrimônio

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
No começo aqui viviam somente os índios com suas crenças e seus deuses, guerreando entre si e comendo uns aos outros. Aí vieram os portugueses: alguns aventureiros, outros fugindo da intolerância da Igreja ou degredados pela inquisição. Em seguida os portugueses arrastaram à força, para cá, os índios das mais diversas nações africanas. As nossas riquezas trouxeram, ainda para cá, outros estrangeiros. A ocupação era traumática e difícil, por conta da dimensão do país e da disputa com os habitantes naturais. Muitos morreram. Os que foram sobrevivendo iam construindo a nossa nação da forma que podiam, sem muita ajuda da coroa portuguesa, mas muito pelo contrário, sendo espoliados de forma vil.
Durante todo esse tempo, muitas contendas e revoltas: a guerra contra os holandeses, a guerra dos palmares, a guerra dos bárbaros, a inconfidência mineira, a revolução de 1817, a confederação do equador e tantas outras pelo Brasil afora. Não foi fácil!
Mas que país temos hoje? Depois de tantos anos e tantas lutas que qualidade de vida temos? Como é a vida deste Brasil de hoje?
Os avanços tecnológicos e da ciência estão presente na vida dos brasileiros. Ande pelos mais distantes rincões deste país e avistarás no topo da casa mais miserável uma antena parabólica e na mão dos mais desprovidos dos seres um celular. E daí, isto é cidadania? Isto é qualidade de vida?
Nossos parlamentos ou nossos governos são ocupados, não por eleitos que se corromperam, mas por corruptos que se elegeram. A corrupção antecede a eleição. A chegada ao poder é precedida de enganações, compra de votos com dinheiro, com imagem, com propaganda enganosa e com apelos religiosos.
Para exemplificar, vi, no ano que passou, um candidato que na eleição anterior foi campeão de votos, e que na de 2010 dizia, despudoradamente, que antes os eleitores não o conheciam tão bem. Realmente, era um novato por aqui, que foi votado em quase todas as cidades, mas que muitos nunca tinham ouvido falar dele. Outro fato lamentável, e que não sensibiliza o cidadão é a eleição de suplentes de Senador e vice - qualquer coisa. Tem que mudar!
Há uma passividade que incomoda. Estamos inertes. As revoltas do passado não nos alcançam mais. O consumismo material, religioso e midiático, nos anestesia. Enquanto no exterior assistimos a revolta de muitas nações contra os seus mandatários que não querem largar o osso do poder, aqui vemos se perpetuarem na política, direta ou indiretamente, muitas famílias. É o poder que gera poder. Quem quer arriscar no novo? Que chance tem o novo de chegar ao poder, sem corromper?
Os poderes constituídos neste país agem sem prioridades magnas. Eles atuam sem nenhuma filosofia que vise o bem comum. São ações isoladas que se baseiam em forças não perceptíveis. Muita mídia e poucos resultados.
Nossa educação e nossa saúde são compostas de números que retratam coisas materiais. A dor e a ignorância nos maltratam diariamente, sem dó nem piedade. A lei de responsabilidade fiscal não tem impedido a construção de novas obras, mesmo existindo uma quantidade de outras inacabadas.
Enquanto amargamos situações deploráveis na segurança, na educação e na saúde, assistimos mais uma irresponsabilidade dos nossos governantes com o beneplácito dos brasileiros: A copa de 2014. Não estávamos preparados para sediá-la. Mas fomos disputar a chance de ser sede por pura vaidade ou incompetência administrativa. Vamos gastar rios de dinheiro, em detrimento do essencial para as nossas vidas. Muitas balelas são colocadas na defesa dessa realização. O Brasil, o Rio Grande do Norte ou Natal serão vistos e conhecidos pelo mundo todo. E daí? Se já não nos conhece é pura incompetência nossa ou deles.
Assim como muitos ficam ricos nas eleições, outros tantos vão ficar mais ricos com a realização da copa. A própria FIFA vem vender suas bugigangas por aqui.
O Centro Administrativo, o Machadinho e o Machadão foram construídos com muito sacrifício. Ao longo do tempo, muitas dívidas foram contraídas e algumas nem terminaram de pagar para construir e manter aqueles próprios. Quantas reformas foram feitas naquela região com recursos de empréstimos?
A destruição daqueles locais é um crime de lesa-patrimônio e deveria ser o centro de revolta da população. Mas o futebol é outro componente que nos anestesia. Vejam a loucura das torcidas nos estádios de futebol. Qual é o político ou fiscal da lei que vai enfrentar aquela turba enfurecida?
Sempre gostei de futebol. Quando menino jogava quase todos os dias. Além disso, assistia jogos levado por meu tio afim, Evilásio Rocha (no seu velório tinha uma bandeira do ABC sobre seu caixão, enquanto tocava o hino do clube). Algumas vezes subia em uma caixa d'água que tinha em um abrigo vizinho ao Estádio Juvenal Lamartine para ver os jogos. Mas, sou contra a realização da copa em 2014, aqui no nosso Estado, por que ela está sendo feita de forma incorreta e abusiva. Qualquer coisa que ela poderia nos trazer de benefícios, pode ser conseguida de uma forma mais criteriosa e decente.
Não precisamos de um novo Estádio. Precisamos, sim, de mais Hospitais, maternidades, escolas, aeroportos decentes, mais segurança, mais cuidados com todas as cidades de nosso Estado. Os números nas áreas mais importantes para a qualidade de vida são preocupantes. A Copa está nos desviando das questões fundamentais deste país. Os municípios brasileiros terão menos recursos com a realização da Copa. Se faltam recursos para as coisas básicas, com certeza faltarão mais ainda por conta da Copa. As contrapartidas, os empréstimos comprometerão mais ainda a qualidade dos serviços prestados pelos governos. As obras, como sabemos, demandarão muitos aditivos, e por conseqüência mais recursos.
Já estão articulando a reforma do Juvenal Lamartine. Novos recursos serão destinados para isso. Mais problemas no trânsito, mais contratos, mais aditivos e mais espertezas. A nossa cidade está com o futuro comprometido. As dívidas, que já são muitas, ficarão ainda maiores. Os políticos vão reclamar na época da eleição e depois quando se elegeram, mas não fazem nada agora.
Contra a Copa, a favor de Natal e do Rio Grande do Norte!

O repovoamento, após a saída dos holandeses


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG

Após a saída dos holandeses, teve inicio o repovoamento do Rio Grande do Norte. Com a morte ou a fuga de muitos para outras regiões, durante o período de dominação batava, as terras foram abandonadas. Para repovoar nossa província, a primeira providência foi convocar os antigos donos ou seus herdeiros para se apresentarem, como fica claro nos pedidos de sesmarias depois de 1654.

Para começar, vejamos um pequeno trecho da Sesmaria de nº 1 que consta do primeiro volume de Sesmarias do Rio Grande do Norte, editada pela Fundação Vingt-un. Advertimos que muitos desses documentos eram cópias e, como tal, alguns enganos podem ter ocorrido. Alguns desses documentos têm partes ilegíveis ou incompletas. Assim, alerto que posso também ter cometido alguns equívocos. Coloco aqui o que for possível e necessário para entender os ditos documentos.

Carta de data que faz o Capitão Antonio Vaz, em nome de sua Majestade que Deus Guarde, ao Capitão Francisco de Mendonça Elesdesma das terras do finado Capitão Simão Nunes Correia, uma em Potigi e outra no Mipibu. Diz o Capitão Francisco de Mendonça Eledesma que ele mora nesta Capitania com sua mulher e filhos onde está vivendo e porque ora é vindo a sua notícia, que se mandou publicar pelas Capitanias da Paraíba e Pernambuco que as pessoas que tivessem terras nesta dita Capitania do Rio Grande, onde são moradoras, as viessem povoar dentro de seis meses, e não o fazendo as daria por devolutas e desaproveitadas e, por que o tempo é passado, que Vossa Mercê por a ele para tratar de povoar algumas e como, por falecimento do Capitão Simão Nunes Correa, lhe ficou uma sorte de terra no Potigi e outra em Mipibu, e até o presente lhe não tem acudido herdeiros nem procurador a povoá-las pede a Vossa Mercê seja servido dar-lhe as ditas terras em nome de Sua Majestade por devolutas e desaproveitada para nelas viver e trazer seus gados e para ter suas roças.

A carta foi passada, em 12 de Agosto de 1659, por Antonio Vaz Gondim, Capitão mor da Fortaleza dos Santos Reis Magos, Capitania do Rio Grande, escrita por Domingos Cardozo de Moura. Foi registrada por Domingos Vaz Velho, escrivão da Câmara da Cidade.
Do documento de nº 2, do referido livro, extraio o seguinte trecho: Provisão do Governador Capitão Geral deste Estado do Brasil, Francisco Barreto, por que dá ao Capitão Dionizio Vieira de Mello por devolutas as terras de Domingos Martins, Vilão das Botas, por alcunha, sitas na Ribeira do Cunhaú, as quais lhe dou em nome de Sua Majestade.

Francisco Barreto, do Conselho de Guerra de Sua Majestade, Governador e Capitão Geral do Estado do Brasil, etc. Faço saber às que esta Carta de Doação e Sesmaria virem que o Capitão Dionísio Vieira de Mello me enviou a representação cujo teor é o seguinte: Diz o Capitão Dionísio Vieira de Mello, que na Capitania do Rio Grande estão umas terras desaproveitadas que foram de Domingos Martins, o Vilão das Botas, por alcunha, as quais terras estão sitas na Ribeira do Cunhaú, e pertencem a Coroa Real por que foram possuídas pelo dito Domingos Martins que sendo morto no tempo dos flamengos, por não deixar herdeiros e estarem vagas, sem dono certo, as ditas terras ficam pertencentes a Coroa Real, e porque o suplicante as quer aproveitar e fazer nelas canaviais e meter currais de gados e, pelo tempo adiante, engenho dando o tempo para isso lugar de se aproveitarem por qualquer (ilegível) que seja, é em aumento das Rendas Reais e em bem público da Capitania do Rio Grande pelo qual pede a Vossa Senhoria lhe faça mercê de lhe dar em nome de Sua Majestade todas as terras do dito defunto assim e da maneira que ele as possuiu em sua vida e assim dar-lhe as cabeceiras das terras do Engenho Cunhaú uma légua de terra em quadra correndo pela várzea abaixo na mesma conformidade pela banda de (ilegível) e Ribeira do Cururimatahy, ficando a várzea em meio...

O terceiro registro é um pedido de terra, ao Capitão Mor Antonio Vaz, do Padre Leonardo Tavares de Mello, vigário de Nossa Senhora da Apresentação, Matriz desta Capitania, que alegou que não houve pedido de herdeiros de um sítio de terras onde morou Jorge Gosman (Joris Garstman), flamengo, que ficou por morte de Diogo Dias, que está pegado a Ribeira do Potigy e ele, suplicante, necessita dela para a povoar com seu gado e criações,e mantimentos. Essa data é de 1660. Pelo título era em Cunhaú, data de Bom Sucesso.

No livro de registros foi inserida uma carta com a numeração 3(a). É uma data para o norte-rio-grandense Manoel de Abreu Soares que participou, posteriormente, da Guerra dos Bárbaros, com idade bem avançada. Ele é ascendente de muitas famílias, aqui no Rio Grande do Norte, principalmente, através do seu filho Pascoal Gomes de Lima. Em um dos trechos da data encontramos o seguinte: O Capitão Manoel de Abreu Soares, morador nesta Capitania do Rio Grande, ele tem seu gado, e família para ajudar a povoar a dita Capitania e lhe faltam terras para o poder fazer, e porque tem servido a Majestade, há vinte seis anos contínuos, nestas guerras de que ele até agora não tem recebido mercê alguma, e porque na Ribeira de Goiana estão umas terras que ficaram por falecimento de Francisco Teixeira, morador que foi nesta Capitania, de que não ficaram herdeiros, as quais terras partem pelo rio Jacu acima ficando da banda do norte o rio .....e com os mais...que ali tem terras a bem lhe faça mercê em nome de sua Majestade dar-lhe as ditas terras de sesmaria assim e da maneira que as possuiu  o dito defunto Francisco Teixeira. Essa data é de 1660, e foi registrada pelo Escrivão da Fazenda Real, Francisco de Oliveira Banhos, em 1664.

A quarta data, do ano de 1660, é, também, para o Padre Leonardo Tavares de Mello. Essas terras, na várzea de Mipibu, pertenceram a Luiz da Moita, morto pelos tapuias.

É importante salientar que a ocupação dessas terras não foi de forma tranquila, pois houve resistência dos índios que perdurou por muitos anos, culminando na chamada Guerra dos Bárbaros, já citada acima.

Luiz da Moita, morto pelo tapuia