terça-feira, 2 de agosto de 2011

João Miguel e os Trindades de Angicos (I)

assinatura de João Miguel da Trindade

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
João Miguel da Trindade e sua esposa Maria Rosa da Conceição nasceram por volta de 1789, pelo que se observa dos registros de óbitos. João Miguel morreu tísico e foi sepultado, no cemitério público da Vila de Angicos, com a idade de setenta e cinco anos, aos 17 de junho de 1864. Maria Rosa faleceu de moléstia interior, em 19 de janeiro de 1875, com a idade de 86 anos. A maioria dos Trindades de Angicos e adjacências é descendente desse casal.
O registro mais antigo onde aparece João Miguel é datado de 6 de maio de 1825. Nessa data e na fazenda Santa Luzia, ele foi testemunha, junto com  Gonçalo José Barbosa, do casamento de Desidério Cardoso com Quitéria, escrava de Ignácio Pereira de Abreu. Foi nesse registro que capturei a assinatura dele e de Gonçalo. Gonçalo era irmão dos meus trisavós Miguel Francisco da Costa Machado e Vicente Ferreira Xavier da Cruz. Era nessa fazenda Santa Luzia que vivia a maioria dos Trindades, como se observa nos registros da Igreja Católica. Segundo Pedro Antas Filho, Santa Luzia era propriedade do Barão de Ceará-Mirim.
Na data de 7 de janeiro de 1857, João Miguel tomou posse do emprego de 3º Juiz de Paz, na Câmara Municipal de Angicos, eleito que foi em 7 de setembro de 1856. Nesse mesmo dia tomou posse Vicente Ferreira Xavier da Cruz no emprego de 1º Juiz de Paz. O 2º Juiz de Paz, eleito na mesma data dos anteriores, foi José Alexandre Solino da Costa. De acordo com as regras da época João Miguel seria da serventia do 3º ano daquela legislatura.
Embora os registros da época não revelassem sua origem, relatos da família dão conta que João Miguel veio da Paraíba junto com um irmão, que depois tomou outro destino. Sobre sua esposa, Maria Rosa da Conceição, não consegui identificar, também, seus ascendentes, embora suspeite que eram da região de Angicos, por conta das dispensas de consaguinidade que aparecem nos casamentos dos filhos  Manoel Jacintho e Rosa Maria.
Manoel Jacintho da Trindade, que nasceu em 3 de julho de 1833, casou, em Gaspar Lopes, em 15 de Setembro de 1866, com Josefa Francisca Xavier Bezerra, filha de José Marianno Xavier de Sousa e Maria Catharina de Sena.  Nesse casamento houve dispensa de consanguinidade, denunciando parentesco entre os nubentes. Acredito que o parentesco se dava através de Maria Rosa da Conceição, mãe de Manoel Jacintho com um dos pais de Josefa, possivelmente José Marianno, filho de Francisco Xavier de Sousa e Josefa Francisca da Costa. Esse parentesco se repete no casamento de Rosa Maria que casou dentro da família de Francisco Xavier de Sousa e Josefa Francisca da Costa.
Rosa Maria da Trindade, filha de João Miguel e Maria Rosa, casou em 13 de novembro de 1872, no sítio Santa Luzia, com Vicente Verdeixa Xavier de Sousa, viúvo por falecimento de sua esposa Elísia Maria da Conceição, e filho de Francisco Xavier de Sousa e Josefa Francisca da Costa. Houve dispensa de sanguinidade e afinidade lícita. A primeira dispensa se dava por conta do parentesco de Vicente com Rosa Maria. Manoel Jacintho casou com uma neta de Francisco Xavier de Sousa e Josefa Francisca da Costa, enquanto sua irmã Rosa casou com um filho desse último casal. A segunda dispensa, de afinidade lícita, poderia se dar por dois motivos. Em primeiro lugar, Rosa casou com o tio de sua cunhada Josefa Francisca Xavier Bezerra. Em segundo lugar, Rosa talvez fosse parente de Elísia, primeira esposa de Vicente Verdeixa.  Elísia era filha de José Alexandre Solino da Costa e Vicência Francisca de Aquilar Bezerra, ele filho de Antonio Barbosa da Costa e Claudiana Francisca Bezerra.
Sobre Francisco Xavier de Sousa, pai de José Marianno Xavier de Sousa e de Vicente Verdeixa Xavier de Sousa, não descobri nada de sua origem, mas pode ser descendente de um Francisco Xavier de Sousa, lá de Utinga. Por isso, acredito que Maria Rosa, esposa de João Miguel deveria ser parente de Josefa Francisca da Costa, mãe de Vicente e José Marianno. Esse Francisco Xavier de Sousa era ascendente do famoso fazendeiro Chico Sousa.
Rosa Maria faleceu e Vicente Verdeixa casou, pela terceira vez, em 1883. Já no caso de Manoel Jacintho quem faleceu foi sua esposa, e ele, então casou, em 17 de janeiro de 1869, na matriz, com Anna Maria da Conceição, filha de Miguel Francisco da Costa Machado e Anna Barbosa da Conceição, meus trisavós. Nesse caso, houve dispensa de consanguinidade e afinidade lícita. Manoel Jacintho era, portanto, parente de Anna Maria. Outro detalhe era que Anna era irmã de Francisca Rita, esposa de João Felippe da Trindade, irmão de Manoel Jacintho. Manoel Jacintho, faleceu novo, com a idade de 38 anos, em 9 de dezembro de 1871, e Dona Anna Maria, casou com Manoel Olímpio Dantas Cavalcanti, lá de Macau, filho de Manoel Dantas Cavalcante e Michaela Cândida Raposo da Câmara.
Nos registros de casamentos de Rosa e Manoel Jacintho constavam os nomes dos pais, e, por isso, foi fácil identificá-los como filhos de João Miguel e Rosa. Mas essa facilidade não ocorreu para os outros filhos do casal.
João Felippe da Trindade casou com Francisca Ritta Xavier da Costa, na matriz, em 8 de janeiro de 1851. O registro é pobre de informações, além de conter muitas abreviaturas. João Felippe morreu de mordedura de cobra, com 75 anos de idade em 15 de maio de 1895. Sua esposa, Francisca Ritta, cujos pais foram citados acima, faleceu em 24 de fevereiro de 1894. Somente descobri que João Felippe era filho de João Miguel da Trindade, por conta de uma listagem eleitoral. O tenente João Felippe foi o último intendente de Angicos do regime monárquico.
 Os outros filhos do casal, João Miguel e Maria Rosa, só foi possível encontrar, após análise de muitos registros. Falaremos sobre eles em outro artigo.