segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Concubinatos

Concubinatos
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor de Matemática da UFRN e membro do INRG
No livro de Francisco Marinho, O Rio Grande do Norte sob o olhar dos Bispos de Olinda, conta Frei João da Purificação Marques Perdigão, o que aconteceu dia 11 de maio de 1834: neste dia falei com 2 concubinados públicos, a cada um dos quais fiz ver quais eram os seus deveres, e apesar das mais sérias reflexões, não pude resolvê-los  a casarem, posto que os convencesse da futilidade de sua razões, tendo eles a tal respeito um claro conhecimento. Admirei a sua dureza, e apenas pude conseguir dar-me resposta no dia seguinte, para meditarem acerca de tão importantes razões por mim expostas. No dia seguinte dos dois só um apareceu disposto a casar.
Segundo Aluízio Alves, em Angicos, o coronel Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, foi, em meados do século XIX, figura de destaque e prestígio político no município de Macau. Era proprietário da Fazenda Morro, porto de embarque que ficava a sessenta e cinco quilômetros do Assú, depois conhecido por Pedrinhas. Presidiu a primeira Câmara de Angicos, que funcionou de 27 de fevereiro de 1834 a 12 de janeiro de 1835. Foi eleito deputado à Assembléia Provincial, em 1846. Propôs, então, a mudança da sede do município para a povoação de Macau. Em 2 de outubro de 1847, foi aprovada a lei de nº 158, que elevou à categoria de Vila a povoação de Macau, subordinando Angicos, como povoação, à sua direção administrativa.Houve revolta e resistência do povo de Angicos.
Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, conhecido por Jerônimo do Morro, era filho do capitão-mor Pedro Pereira da Costa e D. Josefa Maria da Conceição. Esta última filha do Coronel Jerônimo Cabral de Macedo e D. Maria do O' de Faria.
Por seu prestígio, sempre aparecia nos registros da Igreja como padrinho ou testemunha. O que me intrigava é que em vários desses registros estava acompanhado de Dona Anna Fragosa de Medeiros. Embora nos registros não houvesse menção à relação que existia entre os dois, pensei, a principio, que era uma filha sua. Procurei outros documentos. Já em 1827, na Fazenda Morro, há um casamento de escravos de Anna Fragosa, onde um dos padrinhos é Jerônimo Cabral Pereira de Macedo. Pelo registro de casamento de Carlos Cabral de Macedo, em 1824, observa-se que Jerônimo já era casado, nessa data.
No registro de batismo de Estevão, filho de Miguel Ribeiro (da Trindade Dantas) e de sua mulher Maria José Dantas, em1846, na Fazenda Morro, celebrado por Padre Felis Alves de Sousa, aparecem como padrinhos Jerônimo Cabral Pereira de Macedo e Anna Fragosa de Medeiros, seguida da palavra Conc., assim mesmo, abreviada. Pensei que pudesse ter outro significado, mas no registro a seguir, ficou mais claro.
Joanna, filha legítima de Ignácio Ferreira de Macedo e Maria Leocádia Pereira, nasceu aos treze de janeiro de mil oitocentos e quarenta e cinco, e foi batizada pelo Reverendo Antonio Freire de Carvalho, com os Santos Óleos, na matriz de Santa Luzia de Mossoró, aos trinta de outubro do mesmo ano, e foram padrinhos Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, e Anna Fragosa de Medeiros/concubinados/ por procuração que apresentaram Manoel da Silva Pereira e sua mulher Maria Joaquina do Sacramento; e para constar mandei fazer este assento em que assino. Manoel Januário Bezerra Cavalcante, pároco Colado do Assu.
É interessante observar que até o momento não encontrei o nome da esposa de Comandante Superior Jerônimo, nem filhos. Talvez a esposa dele tivesse algum tipo de problema. Jerônimo faleceu com 80 anos em 1860. No seu óbito não aparece seu estado civil. Anna Fragosa de Medeiros faleceu em 1873, com 77 anos de idade. A seguir alguns outros concubinatos encontrados, com suas especificidades.
Às oito horas da noite do dia vinte e dois de agosto de mil oitocentos e cinqüenta e cinco, no Sítio Camoropim, o Padre Coadjutor Elias Barbalho Bezerra, em desobriga, uniu em matrimônio, de minha licença, e deu as bênçãos nupciais aos contraentes José Lopes da Costa, de idade de setenta anos, e Maria Francisca da Conceição, de sessenta e cinco, concubinários antigos; e servatis ex more servandis; e o presenciaram as testemunhas Manoel Gregório Antunes, casado e Luiz da Circuncisão Ferreira, solteiro.
Às dez horas e meia da manhã do dia quinze de fevereiro de mil oitocentos e sessenta, no Sítio Linda-Flor, desta freguesia, por se acharem dispensados de consaguinidade, uni em matrimônio, e dei as bênçãos nupciais, aos contraentes, meus paroquianos, João Domingos Cardoso, e sua concubina Delfina Maria da Conceição, dispensados os proclamas em razão da idade madura, e do concubinato, e observados as mais formalidades de estilo, a que presenciaram Albano Francisco de Sousa e Luisa Nunes da Fonseca, casado.
Aos vinte e dois de abril de mil oitocentos e setenta, no Tubarão, em desobriga, assisti recebimento em matrimônio, os meus paroquianos Januário Pereira de Lima, viúvo, por falecimento de sua mulher Antonia Maria da Conceição, e Joanna Maria da Conceição, com quarenta e quatro anos de idade, os quais achando-se há anos concubinados, por admoestação minha, dispuseram-se  a casar, portanto dispensados foram de habilitação de papéis, sendo confessados e examinados em Doutrina Cristã, e lhes dei as bênçãos nupciais, servatis servandis de jure; foram testemunhas Francisco Antonio Baracho, e Guilherme Antonio de Araújo.