sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Descaso e Incompetência


Descaso e Incompetência
Dalton Melo de Andrade
Professor universitário

               Se há algo que me deixa desolado é o descaso das ditas "nossas autoridades"  com o sofrimento do povo. O "Jornal de Hoje" do começo da semana passada publicou uma reportagem e uma fotografia dos professores aprovados, levando documentos para serem contratados. Uma enorme fila. Esta semana, uma reportagem sobre candidatos à renovaçao, ou emissão, de carteiras de habilitação. Outra fila interminável. Horas perdidas, cansaço, desânimo, enfim, sofrimento.
Tudo isso retrata o descaso e a incompetência ululantes dessas ditas "nossas autoridades". O que ocorre na Educação, no Detran, se repete em várias outras áreas dos governos, em seus diversos níveis. Os problemas da saúde e da segurança são evidentes.
Não me digam que falta dinheiro, pois não saem das TVs, rádios  e  jornais uma propaganda cansativa de tão repetida, além de enganosa, e que não é gratuita. Além de outras gastos dispensáveis, como os da Copa, festas de ano novo, Carnaval, que só deveriam ocorrer após atenção às necessidades básicas. Não acredito que  esse comportamento seja proposital, pois ninguém que exerce um cargo público, procurando voltar à ele, de sã consciência, praticasse tais ações. Portanto, uma única explicação: descaso, incompetência, ou ambos.
               Fui Secretário de Educação no governo Cortez Pereira. Encontrei alguns absurdos do passado que resolvi enfrentar e tentar corrigir. O primeiro e mais grave - a centralização. Tudo tinha que ter a assinatura do Governador. No meu primeiro despacho com Cortez, levei uma caminhonete cheia de processos para ele assinar. Parei a caminhonete em frente ao Palácio Potengi, subi à sua sala e o levei para ver a caminhonete cheia de processos. Para você assinar.   Riu muito e respondeu: está louco, resolva isso. Já está resolvido; assine este decreto me delegando poderes que resolvo. Assinou na hora. Por minha vez, deleguei poderes aos meus auxiliares e praticamente deixamos, eu e ele, de assinar papeis. Sem perder o acompanhamento das atividades, para as quais tinhamos ambos mais tempo.
               Entre os processos, os de contratação de professores, que estavam já trabalhando sem receber dinheiro. Procurei Joanilson de Paula Rego, Secretário de Administração, que encontrou uma solução: o professor assinava o contrato, entrava imediatamente na folha de pagamento e o processo corria seu tramite legal sem prejudicar ninguém.
               Outra solução que demos a um problema que não devia existir - as enormes filas de matrículas. Adotamos a sistemática de que os alunos já saiam automaticamente matriculados para o ano seguinte. Só os novos tinham que ir à escola se matricular. E fizemos um zoneamento. A escola atendia, de preferência, os moradores de sua área. Não só facilitávamos o comparecimento, como colocávamos os pais dos alunos mais perto da escola.
               Uma outra providência, para acabar com exemplos. Quando entrei  no Atheneu, em 1942 (assumi a Secretaria em 1971), fui obrigado a levar um atestado de saúde física e mental, que era dado pela Secretaria de Saúde. Esse atestado já estava pré-assinado pelo médico, que não nos via, e a enfermeira só fazia escrever o nosso nome. Essa exigência ainda existia. Genibaldo Barros era o Secretário de Saúde. Conversei com ele e mudamos o sistema, e os exames passaram a ser feito nas escolas.
               Mais das vezes, as soluções são fáceis de encontrar. Outras vezes, não. Mas a preocupação com o bem estar das pessoas, obrigação dos governos, deve vir sempre em primeiro lugar.  Em todos os níveis de governo.
               Mas, convenhamos, descaso não é privilégio nosso. Contam que um administrador de uma cidade inglêsa observou um guarda que ficava 24 horas ao lado de bancos numa praça da cidade. Procurou saber o por que e descobriu que havia uma velhissíma decisão, esquecida no tempo, que mandava ficar um guarda junto aos bancos recém pintados, para avisar os distraídos para nele não sentarem.  Suspendeu a ordem.
                Para tudo há um jeito. É só querer.
                E uma observação final. Deve ter entrado em vigor a nova ortografia inventada. Os puristas por favor corrijam os possíveis erros. Grato.
                   

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