terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quem era D. Antonia Maria Soares de Mello?


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do INRG e do IHGRN
O mestre Cascudo, em uma das suas Actas Diurnas, escreveu sobre Francisco Machado de Oliveira Barros o seguinte trecho: para aqui veio já casado com a pernambucana D. Antônia Maria Soares de Melo, e ficou, trabalhando, servindo, até que morreu, viúvo, com 72 anos de idade, a 28 de abril de 1795.
Na verdade, observando alguns documentos que pesquisei, tenho outra versão sobre a vida desse casal que vou reconstituir com base em alguns registros que Câmara Cascudo não teve conhecimento. 
Em 1760, Francisco Machado foi nomeado para o posto de sargento-mor da Cavalaria do Regimento de que era coronel, Francisco da Costa de Vasconcellos, na vaga por falecimento de Cosme Medeiros. Ele tinha servido na praça de Recife por mais de 8 anos. Em 1771 foi nomeado, no mesmo Regimento, para o posto de tenente-coronel. Não sei em que ano foi nomeado  Mestre de Campo. Em 1763, o sargento-mor Francisco Machado de Oliveira Barros era casado, e, ainda, morador em Pernambuco, conforme o batismo de Joachim, filho de André Matheus e Rosa Maria de Oliveira. No ano de 1765, no batizado de Félix, filho do tenente-coronel Félix Barbosa Tinoco e Antônia Maria da Conceição, o sargento-mor Francisco Machado de Oliveira Barros, casado, comparece, como padrinho, na companhia de Dona Antônia Maria Soares de Melo, filha de Dona Eugenia de Oliveira e Melo.
Outro documento dá conta que, em 1766, no batizado de Jerônimo, filho de uma escrava de Josefa Gomes, quem estavam como padrinhos eram Miguel, filho do tenente-coronel Francisco Machado, e Maria Jacinta, filha de Eugenia de Oliveira e Melo. Esses padrinhos deviam ser Miguel Francisco do Rego Barros e Maria Jacinta Pródiga da Costa.
O coronel Paulo Leitão de Almeida encomendou algumas pesquisas sobre o ascendente da família Leitão de Almeida, o professor régio José Leitão de Almeida. Com essas informações escreveu um trabalho onde revela que: Dona Ana de Melo e Albuquerque fez doação para dois sobrinhos, Padre Antônio Caetano do Rego Barros e Francisca Xavier de Vasconcelos, filhos de Francisco Machado. Dona Francisca Xavier foi a segunda esposa de José Leitão de Almeida. A primeira foi Dona Maria Felícia dos Santos.
Nas mesmas pesquisas, Paulo Leitão informa que Dona Ana de Melo e Albuquerque contestou o testamento do seu irmão, Francisco Machado, por nomear, como seu herdeiro, o filho Joaquim José do Rego Barros, acusado por ela de ser filho de punível coito. Ora, a mãe de Joaquim era Dona Antônia Maria Soares de Melo. Por isso, suponho que o Mestre de Campo, iniciou um relacionamento com Dona Antônia, ainda casado com D. Inácia do Carmo, e que Joaquim nasceu desse relacionamento, embora, tempos depois tenha oficializado o casamento, pelo se que observa de registros posteriores.
Quem era essa Dona Antônia Maria Soares de Melo? Qual era a naturalidade dela? Os registros da Igreja revelam que ela era natural da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, ao contrário do que imaginava Cascudo, e os indícios nos levam para a hipótese de ser a filha de Dona Eugenia de Oliveira e Melo, citada acima, e do sargento-mor Dioniso da Costa Soares, irmã, portanto, de Anna Maria Soares de Mello, esposa de Gonçalo Soares Raposo da Câmara. O Mestre de Campo Francisco Machado de Oliveira Barros e Dona Antonia Maria Soares de Mello tiveram uma filha de nome Dionísia Soares de Mello, (homenagem ao avô da batizada), que casou com Francisco Antonio Carrilho.
Paulo Leitão de Almeida supõe que quem veio representar José Leitão de Almeida, na questão da doação de bens para sua segunda esposa, Francisca Xavier, foi o filho do dito com Dona Maria Felícia, Agostinho Leitão de Almeida.
Em 1795, ano da morte do Mestre de Campo, os bens em mãos de Joaquim José do Rego Barros foram sequestrados, por decisão judicial. Acredito, porém, que tudo foi resolvido a contento, pois o dito Agostinho Leitão de Almeida casou com Dona Antonia Maria Soares de Mello, filha de Francisco Antonio Carrilho e de Dionísia Soares de Mello, irmã de Joaquim José do Rego Barros, por parte de pai e mãe.
Dona Antonia Maria Soares de Melo faleceu em 1784, com a idade de 41 anos pouco mais ou menos. O óbito do Mestre de Campo, Francisco Machado revela que ele ficou viúvo dela até 1795, ano que faleceu.
É importante salientar que Francisco Machado de Oliveira Barros, Joaquim José do Rego Barros, e Agostinho Leitão de Almeida, três importantes personagens da História do Rio Grande do Norte, foram contemplados por três  Actas Diurnas do Mestre Cascudo, e persistem dúvidas, até hoje, sobre alguns aspectos das suas vidas. 
Quer conhecer mais sobre nossas velhas figuras? Adquira, antes que se esgote, o livro que reúne as Actas Diurnas de Câmara Cascudo lançado há pouco tempo. Serve para toda a família. Todas as escolas de todos os níveis deveriam receber essa preciosidade.

P.S. recentemente encontrei esse registro de batismo: José, filho legítimo do capitão Agostinho Leitão de Almeida e de sua mulher Dona Josefa Martins de Macedo,neto por parte paterna de José Leitão de Almeida e de Maria Felícia, e pela materna de Mathias Cabral de Macedo, e Dona Izabel Francisca da Costa, nasceu aos 9 de junho de 1819, batizado pelo Reverendo Manoel Pinto de Castro, de licença minha  aos 7 de dezembro do mesmo ano; foram padrinhos o alferes Manoel Antonio Cabral de Macedo, e Dona Maria de São José Macedo, na capela do Senhor Bom Jesus da Dores. Francisco Lumachi de Melo.