segunda-feira, 12 de março de 2012

A petição de Paschoal Gomes de Lima

Maria Magdanela, filha de Paschoal Gomes de Lima, 1701

Em artigo anterior falamos sobre um alvará, de 1681, concedido pelo Príncipe Regente e Governador de Portugal e Algarves, D. Pedro II (irmão do Rei Afonso VI), que comprova que Manoel de Abreu Soares foi capitão-mor do Rio Grande, em 1656. Esse alvará apareceu em uma petição do filho, Pascoal Gomes de Lima, que requereu os benefícios do dito documento, quarenta e oito anos depois de sua expedição.
Em Julho de 1729, o alferes Pascoal Gomes de Lima, morador na Capitania do Rio Grande, requereu ao Rei Dom João V (o Freirático), filho de D. Pedro II, acima, o posto de escrivão da ouvidoria, da cidade da Paraíba que se achava vago, ou, em falta deste, o de oficial da Fazenda Real que é o da abertura, ou de Provedor da Fazenda Real do Rio Grande, que também se achava vago, por ser ele, na época, filho legítimo e único do capitão-mor Manoel de Abreu Soares, com base no sobredito alvará concedido, para filho ou filha do capitão-mor Manoel de Abreu Soares.
A fim de comprovar sua filiação, foram apresentadas testemunhas ao Juiz Ordinário Theodósio de Freire Amorim. Deram seus testemunhos as seguintes pessoas; Comissário Geral Manoel de Mello Albuquerque, casado, 65 anos; licenciado Francisco Alves Bastos, casado, Juiz de Órfãos, 50 anos; Pascoal Freire de Crasto, casado, mestre da Capela, 82 anos; sargento-mor Bento Teixeira Ribeiro, casado, morador na Ribeira do Mipibú, 68 anos. Todos eles confirmaram, sob juramento, que Pascoal Gomes de Lima era filho legítimo do capitão-mor Manoel de Abreu Soares, e que naquela data todos os irmãos do requerente eram já defuntos. Foi dito, também, por alguns, que a esposa de Manoel de Abreu Soares, e mãe de Pascoal, era Dona Maria de Siqueira.
O outro documento que faz menção ao potiguar Manoel de Abreu Soares como capitão-mor de nossa Capitania é o que lhe concedeu o título de capitão-mor de toda a infantaria de soldados pretos e índios, em 1688, por conta do aperto em que várias nações bárbaras tinha posto à capitania do Rio Grande. Foi ordenado, por Mathias da Cunha, do Conselho de Sua Majestade, ao Governador da Capitania de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, que mandasse duzentos infantes com seus capitães e governador dos índios, com quatrocentos arcos, e o terço de Henrique Dias, com cem soldados pretos, para fazerem aos Bárbaros a guerra ofensiva que estava pedindo a sua solução e estrago dos moradores da Capitania do Rio Grande.

Em um dos trechos do documento, complementa: E para isso era necessário nomear capitão-mor de toda essa gente, pessoa de grande valor e experiência. Respeitando eu o bem que estas qualidades na de Manoel de Abreu Soares, que nela assiste, e aos muitos anos que tem servido a Sua Majestade nas guerras de Pernambuco, ocupando todos os postos até o de capitão de infantaria, capitão-mor da mesma capitania do Rio Grande e, ultimamente, da de Sergipe d'El Rei; e tendo consideração o se me representar pelo Procurador dos moradores do Rio Grande, que fosse ele sujeito, a que se remetesse o socorro que se me pedia: esperando que nas obrigações que lhe tocarem em ocupação de tanta importância, se haverá muito conforme a opinião que se tem de sua pessoa e confiança que faço do seu merecimento: hei por bem de o eleger e nomear, como em virtude do presente elejo e nomeio capitão-mor de toda a infantaria soldados pretos e índios.
Sobre essa participação de Manoel de Abreu Soares, há várias referências de Taunay, em sua Guerra dos Bárbaros, hoje disponível na internet. Entre elas, citamos: Ao mesmo tempo mandara servir no teatro das operações o experimentado e bravo, embora já muito idoso, Manoel de Abreu Soares, homem de tão bela fé de ofício. Agiria autonomamente procurando socorrer a Albuquerque Câmara. Partira Soares sem detença de Natal para as margens do Piranhas ocupando um lugar chamado de Olho d'Água e depois Poço Verde onde construiu um estacada.
Segundo alguns autores, nessa época Manoel de Abreu Soares, já era octogenário. Em outro artigo trataremos da descendência de Manoel de Abreu Soares.
Os sites sobre São Gonçalo do Amarante informam, erradamente, que Pascoal Gomes de Lima era português, e chegou lá, proveniente de Pernambuco, em 1710, junto com outro português, Ambrósio Miguel Sirinhaém. Mas na verdade, Jerônimo da Cunha, o avô, já tinha sesmaria por aqui em 1605; o pai, Manoel de Abreu Soares, nasceu aqui, no Rio Grande; há vários registros de Pascoal, antes de 1710, por aqui. Antes de se escrever qualquer outro livro sobre São Gonçalo, há necessidade de se consultar as fontes primárias, no lugar de ficar repetindo erros.
Por falar em equívocos, o Senador Georgino Avelino nasceu em 1886, e não em 1888, como se propaga. Escreveremos sobre isso.
Já está nas livrarias, meu livro, editado pela UFRN, Notícias Genealógicas do Rio Grande do Norte, com 119 artigos publicados, no "O Jornal de Hoje".

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG